Pesquisadora analisou os discursos do atual presidente da república, proferidos em mais de 30 anos de vida pública, e constatou que houve mudanças em relação à temática emprego
Entre as mudanças ocorridas na postura do político Luiz Inácio Lula da Silva, que culminaram com sua eleição em 2002, uma chamou a atenção da jornalista Luciana Panke: "As mudanças nos discursos de Lula sob o prisma da temática emprego". Esse título, que é de sua tese de doutorado defendida na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, deixa claro o trabalho a que se propôs a jornalista. Luciana analisou os discursos proferidos durante os mais de 30 anos de vida pública do atual presidente da República, desde os tempos de sindicalismo - passando pelo período da fundação do Partido dos Trabalhadores, enquanto deputado federal, como candidato em quatro eleições presidenciais - até os pronunciamentos durante o primeiro ano no Palácio do Planalto. "Não me referi apenas à superfície textual. Observei a relação entre a língua, ideologia e contexto com relação ao tema emprego", conta a jornalista. Sem ter a pretensão de julgar as ações governamentais ou avaliar o desempenho de Lula, Luciana definiu três fases distintas: a primeira, de extrema esquerda; a segunda, de transição; e a terceira, de centro-esquerda. "Escolhi a temática emprego por ser fundamental na caracterização da sociedade contemporânea e porque sempre foi uma das questões mais abordadas pelo presidente eleito, desde os tempos de sindicalismo", justifica. O contestador Na extrema esquerda, os discursos de Lula pediam liberdade de expressão. Nesse momento - nas décadas de 1970 e 1980 - o "Lula contestador" consagrou-se como uma liderança popular. "Seus discursos eram baseados em princípios marxistas que questionavam o planejamento econômico do então governo", conta a pesquisadora. Além de contestar as relações entre capital e trabalho, defendia a igualdade e um mundo sem dominantes e dominados. Nesse momento, inseriu em sua fala a necessidade de geração de empregos, cobrando ações das esferas governamentais. Com as eleições diretas à presidência, o candidato ainda mantinha características do perfil operário. "Tanto por sua postura ideológica quanto por seu visual", avalia Luciana. Nesse período, os discursos eram críticos a ponto de eliminar o diálogo com as classes dominantes e os acordos firmados com o FMI. A transição Nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, o PT se abriu para acordos com outros partidos de esquerda. Com essa postura, considerada de transição e que aponta para o amadurecimento político, o partido conseguiu projeção nacional. Em 1998 observa-se propostas mais próximas do pensamento social-democrata. E é nesse momento que há uma reformulação da imagem do candidato, que apresenta um perfil mais conciliador, moderno e plural. A vitória O slogan "a esperança venceu o medo" traduziu a campanha vitoriosa na eleição de 2002. A postura de rompimento com os velhos dogmas do PT, segundo Luciana, foi um dos fatores para a adesão de um novo público à sua candidatura. "Além disso, houve mudança em relação às propostas econômicas e à vice-presidência, que foi ocupada pelo PL, um partido de direita", lembra a pesquisadora. A questão do emprego mereceu destaque com a promessa da criação de "10 milhões de vagas em quatro anos". Luciana recorda que, de acordo com uma pesquisa do IBGE, Lula herdou 7,9 milhões de desempregados. O mesmo levantamento apontou que o rendimento do trabalhador caiu, pela quinta vez consecutiva desde 1996, acumulando perdas de 12,3%. "Uma outra pesquisa apontou a questão do emprego como prioritária para o governo Lula, a curto e médio prazos", salienta a jornalista. Para as próximas eleições presidenciais, o candidato Lula, segundo a jornalista, deverá apresentar em seu discurso as conquistas do governo sobre a temática emprego. "Com certeza, ele vai citar a realização de programas sociais como o ’Mais Empregos’ e ’Primeiro Emprego’. Apesar de não conseguir cumprir a meta de 10 milhões de vagas, a campanha pode argumentar em termos comparativos, ou seja, quantas vagas formais foram geradas nos governos antecessores e quantas nos quatro anos de seu governo", acredita. "Para eu ter certeza do que estou falando seguirei com a pesquisa. No final do ano poderei confirmar essas hipóteses."
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