As pétalas caem quando arde o fim do dia, Quando submerge em meu corpo desnudo Procurando a profundidade de si mesmo, Quando crispa seus dedos e seus olhos Como se aranhas ocultas o enredassem. As pétalas caem delicadamente em seu dorso Quando delira em pleno gozo. As pétalas caem quando se resume ao que é: Apenas um homem em busca de raízes e sementes. Um anjo de asas partidas, incompleto, exigente, Incontrolável porque tocam os ângelus, Porque os campos parecem frios, Mas seu corpo é incandescente. As pétalas caem quando suas palavras Estão imbuídas de sentimentos e pecados, Porque o espírito límpido enfim se acalma Em outra vida, em outra pele. As pétalas caem para que tenha mais asas E alcance seus sonhos com a intensidade necessária. As pétalas caem para que se encontre O que é belo e distante, o que parece fragilizado Sob o Sol, mas que resiste. As pétalas caem porque também se emocionam. E a emoção é pura entrega. O fogo consumido do fogo. Hoje beijo seus olhos e derramo pétalas em seu dorso Para que se torne alado, Para que sinta a reverberação do amor e A floração das rosas prostradas diante da primavera. Enfeito-o de pétalas Para que não se sinta deserto ou inocente, Para que mereça o repouso Depois de ter chegado Ao ponto mais profundo do corpo, O ponto mais próximo da alma. São mistérios gozosos da natureza Saber por que as pétalas caem, Mas elas se entregam - totalmente nuas - e não se consomem em meio às chamas. Nota do Editor: Solange Sólon Borges é jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em alguns programas "O prefácio", sobre livros e literatura. Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV (2003/2004). Apresentou, também, "Paisagem Feminina", pela Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta - emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.
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