O secretário de Administração Penitenciária do Estado, Nagashi Furukawa, levantou a possibilidade de o governo do Estado transferir os detentos de 12 penitenciárias danificadas durante as rebeliões promovidas na semana passada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). O local escolhido seria a Ilha Anchieta, em Ubatuba. A hipótese surpreendeu as autoridades locais e gerou revolta entre os munícipes. Furukawa defendeu a idéia acreditando que a transferência dos presos para a ilha seja uma boa opção, pois no passado lá já funcionou um dos presídios mais seguros do país. Tudo começou quando lideranças políticas questionavam sobre o destino dos detentos perigosos das unidades destruídas nas últimas rebeliões. O secretário teria defendido a transferência de 700 a 5.000 detentos das penitenciárias do Estado para a ilha em Ubatuba. O prefeito de Ubatuba, Eduardo César considerou “extremamente infeliz” a idéia defendida pelo secretário. “Depois do absurdo das televisões para os bandidos, Furukawa vem com um absurdo ainda maior, que seria transferir os presos das cadeias danificadas para a Ilha Anchieta, hoje um paraíso ecológico que abriga dezenas de pesquisas de várias universidades do país e é um dos maiores atrativos turísticos de todo o Litoral Norte. Aliás, na Ilha, hoje, não é permitido nem camping e agora vem um ‘brilhante’ secretário com a proposta de acampar os presos neste paraíso ecológico? Está na hora do governador Cláudio Lembo rever a manutenção do secretário no referido cargo”, afirmou o prefeito. Viviane Buchianeri, diretora do Parque Estadual da Ilha Anchieta, também disse que a idéia é absurda e que ficou sabendo do fato por meio da mídia. “Não tem possibilidade nenhuma em reativar o presídio. Ele não funciona há 50 anos. Na ilha há um problema gravíssimo de água e luz. É totalmente inviável.” “Em 1977 foi criado o Parque Estadual da Ilha Anchieta, há um trabalho grande com a conservação da natureza, proteção dos ecossistemas naturais. Na ilha temos Mata Atlântica, restinga - últimas do Litoral Norte - e costões rochosos. Temos mais de 50 projetos de pesquisa de universidades renomadas. A visitação chega a 80.000 pessoas por ano. Tem todo o lado da renda e da geração de empregos para o município. Enfim, tem inúmeros fatores que impedem uma idéia dessas”, diz Buchianeri. O presidente da Associação Comercial de Ubatuba, Ahmad Khalil Barakat, disse que é totalmente contra a proposta de transferir detentos para a Ilha Anchieta. “Absurda e infeliz. Acredito que estas duas palavras resumem muito bem a idéia do secretário Nagashi Furukawa, em transferir os detentos de 12 penitenciárias danificadas durante as rebeliões promovidas na semana passada, pelo PCC, para a Ilha Anchieta. Somos totalmente contra essa proposta. Transformar a ilha em um presídio é prejuízo certo para Ubatuba e para o Litoral Norte. A Ilha Anchieta é o nosso principal produto turístico, além de ser uma reserva ambiental . Agora, o que não podemos deixar, é que o governo do Estado, por não estar conseguindo conter os problemas dos presídios, venha querer jogar essa situação aqui. Já temos muitos problemas locais para resolver, principalmente relacionados ao turismo, que é a nossa única fonte de renda. Não podemos nem deixar se cogitar uma hipótese desta, que pode trazer prejuízos irreparáveis para a cidade”, disse Barakat. Já a secretária do Meio Ambiente, Cristiane Aparecida Gil Guimarães, disse desconhecer o fato. “É tão improvável que nem chegou a mim essa notícia”. A Secretaria de Administração Penitenciária - SAP afirmou desconhecer a proposta e não comentou o assunto. Histórico De 1908 a 1952 a Ilha Anchieta foi sede de um presídio considerado de segurança máxima e em 1952 a unidade foi desativada, após ter sido palco de uma rebelião que provocou muitas mortes e gerou medo entre moradores da região. Em 1977, a ilha foi transformada em um parque estadual e hoje é um dos locais mais visitados pelos turistas no município. “Tanto que a ilha Anchieta é conhecida como a ilha do Litoral Norte” diz Viviane Buchianeri.
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