Ninguém merece assistir ao velho jogo de palavras da política. Quando se pensa que as coisas nesse campo estão melhorando, pronto, chega uma enxurrada de velharias, uma leva de más condutas. Não chega a ser tão grave quanto a corrupção, mas o enfrentamento nas urnas há muito passou da fase de xingamentos. Se Lula não conseguiu conduzir aos dez milhões de empregos, a uma economia crescendo acima dos 5% ao ano, deve ser criticado por isso. Se seus opositores querem conquistar o eleitor, devem trazer propostas concretas de como conseguir isso, algo novo, diferente. Se for para ficar na tentativa de avacalhação moral de parte a parte, melhor procurar outros nomes para a presidência, tão velhos e ultrapassados quanto esse tipo de comportamento. Não acho que com isso se deva abandonar a crítica, nem, como disse o próprio presidente, evitar o jogo rasteiro de usar as imagens das CPIs. Quem fez coisa errada deve pagar por isso, a oposição terá de reforçar sim a situação que aconteceu no Brasil. Mas partir para o papo de botequim é a estratégia menos convincente. Os Delúbios e Silvinhos, os Dirceus e Genoínos, devem ser apresentados de novo sim à curta memória do eleitor brasileiro. Mas além disso devem existir outras coisas. O Brasil corrupto deve ficar para exemplo, mas o Brasil de propostas deve aparecer. Se a campanha ficar apenas no primeiro caso, melhor não gastar o nosso tempo na TV. Os hábitos do presidente Lula podem até ser reprováveis para uma faixa da população, mas desde o início de mandato, ou mesmo antes, nas campanhas, estavam explícitos. Lula sempre gostou de um churrasquinho, de festa, futebol e de bebida. Às vezes exagerou. Mas a exploração desses fatos por si só, reforçando um comportamento como se fosse um perfil, faz cair na vala comum qualquer pretendente. Tanto porque, no fundo, no fundo, todos têm um ponto fraco a ser explorado. Falando assim, parece até que isso é uma defesa do presidente, mas não é. É uma defesa do eleitor, que sobre esses aspectos já conhece Lula de outros carnavais, já o viu em cenas diversas ao longo de anos. O eleitor quer, já que terá de ser governado por alguém, saber se terá emprego, se a comida chegará à mesa mais barata, se as exportações vão continuar, se a agricultura terá mais atenção, se a industrialização e as novas tecnologias serão privilegiadas, se poderá sair de casa sem medo, se nas ruas haverá mais segurança, se o modelo de ensino vai ou não passar por uma reforma definitiva e não ficar apenas nos remendos. O brasileiro está cansado de discurso, quer ação e quer algo mais duradouro. As políticas nos últimos anos têm melhorado todos esses cenários, mas ainda é tudo muito pouco diante de tantas carências. O eleitor não quer palavras, quer projetos e projetos realmente novos, grandes e revolucionários que indiquem de fato o caminho da mudança. Até agora, nenhum dos lados mostrou isso. Até agora, a oposição ficou no velho estilo de fazer política e a situação na velha maneira de fazer inaugurações, na maioria sem expressão, e no populismo. Espera-se muito, muito mais. Nota do Editor: Eleno Mendonça também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.
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