As drogas tornaram-se um problema tão comum e relevante que em 1987 a ONU instituiu o dia 26 de junho como sendo o Dia Internacional Contra o Uso e o Tráfico de Drogas. No mundo todo, acontecem atividades sociais com a finalidade de aumentar a consciência do planeta para o problema. "Muitas famílias minimizam o problema por preconceito e isso faz com que as conseqüências sejam piores", explica a psicóloga Dorit Verea, especialista no tratamento de dependentes químicos. Aqueles que possuem um membro da família com problemas em função do uso de drogas enfrentam tarefas árduas: facilitar a busca de orientação e tratamento por parte do dependente químico (que muitas vezes nega a extensão e gravidade do problema), estabelecer condições favoráveis para a continuidade do tratamento bem como contribuir na prevenção de recaídas. Desnecessário é falar do quanto o familiar necessita de espaços para resgatar a serenidade perdida durante o processo de uso ou abuso de químicos por parte do seu ente querido. "É comum observar-se durante o processo evolutivo da dependência química o stress que toma conta dos membros da família, suas mudanças, e como, com o tempo, desenvolvem uma adaptação às situações de tensão às quais são ’submetidos’", diz Drª Dorit. Assim como os efeitos do abuso de drogas dependem do tempo, da quantidade, do tipo de droga, do momento do uso, do organismo e da personalidade de cada um, as conseqüências para as famílias variam de acordo com suas características, com o ambiente interno e externo, com o momento e a fase do ciclo de vida em que se encontram. As conseqüências do uso abusivo de substâncias psicoativas reverberam como ondas e podem afetar todos os integrantes deste sistema. A ansiedade na família pode levar a que seus membros se tornem incapazes de resolver seus próprios problemas em função do outro. "É como a mãe que, ao lutar contra o alcoolismo do marido, deixa de lado a criação dos filhos", exemplifica Drª Dorit. "A família não pode se isolar", completa. Com o tempo, os membros da família do dependente químico podem sentir que não estão resolvendo a situação, que as coisas estão piorando e que o limite está se aproximando. Temem por sua sanidade mental, por sua existência e a desesperança se faz inexoravelmente presente. Percebem que algo deve ser feito, mas não sabem exatamente o que, estão desnorteados. "Freqüentemente, neste momento o que ocorre é uma tentativa frustrante de sensibilizar o dependente para procurar ajuda e, com a recusa, perdem o rumo de suas vidas", comenta Drª Dorit. Em virtude desta realidade, profissionais especializados desenvolveram um programa de atendimento e orientação para familiares de alcoolistas e drogadictos. Ao procurarem orientação, eles são encaminhados a refletir sobre certos padrões repetitivos que desenvolveram ao se adaptarem à problemática da dependência e que resultaram numa dinâmica familiar patológica. Diversos tópicos, dentre os quais estabelecimento de limites, regras de conduta e valores das famílias são trabalhados com um objetivo primordial: a quebra da acomodação da família e o desenvolvimento de um ambiente familiar onde não haja espaço para a compulsão e na qual o dependente sinta-se compelido a procurar ajuda. "O envolvimento de todos os membros do sistema familiar no tratamento é fundamental para que ocorram modificações estruturais que resultem positivamente na recuperação do dependente químico. É inquestionável a influência e o poder do sistema familiar no seu processo de recuperação", finaliza Drª Dorit.
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