Poetas que se prezam escrevem como se estivessem sussurrando no ouvido da mulher amada. As amadas que se cuidam sabem como é difícil ter um poeta só para elas - e ouvem as letras como se fosse um arrepio na nuca. Quando poeta e amada se encontram - o que é raro, pois senão não haveria poesia -, os dois ficam em silêncio durante um longo tempo: ele, pensando em roçar os lóbulos da escolhida; ela, querendo sentir na face o calor das palavras. Depois, quando os lábios do poeta tomam coragem e se abrem para recitar versos, quando os ouvidos da mulher amada se abrem para receber a homenagem, aí tudo o mais é desnecessário: foi no silêncio e na espera que se fez a poesia. Todo poeta, portanto, sonha em ler aos ouvidos da mulher amada. Melhor seria se os dois se beijassem. Nota do Editor: Marco Antonio Araujo é jornalista, ex-professor e coordenador de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Trabalhou nos jornais A Voz da Unidade, do PCB; A Gazeta Esportiva, onde foi diretor de redação e criou as revistas Educação, Língua Portuguesa, Fera! e Ensino Superior.
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