Essa gente vive
a vida inteira enredada
nos fios de rede aderida

e é sempre fiada
de fios de amor cardado
cardado em amor de rede

nascida já fia
a umbilical fibra à alma
herança de toda a vida

e nem bem sabe
se nasceu emalhada
pescadora ou pescada

essa gente pescadora
tresmalhada do emotivo
tecida em tramas de espera

profissão de vidente
mais asceta que profeta
antes crença que ciência

gesta o gesto conciso
o cotidiano gesto preciso
de derramar a rede ao mar

rede que é o capital
capital a capitalizar
a fome de cada dia

e nessa ambígua espera
sem lamúria sem exéquias
é brusco o lanço final

e concluída a redada
jaz emalhada
mais poita que raiz

e é de fio fiado
urdido e tramado
sua derradeira rede

e é de fio curado
sem vazio bem tapado
sua definitiva veste