Igreja. Praça. Festa do Divino. Não posso dizer que seja um nefelibata no assunto. A festa do Divino de antigamente deixavam-me nas nuvens. Quase perto dos anjos. Era uma festa, de fato, divina. Desde tenra infância participei voluntariamente ou não dos festejos. Minha mãe, Dona Salvadora, à época dona do Hotel Felipe, era uma das festeiras desta festa. Ubatuba participava religiosamente. Nos dois sentidos. Hoje não sei quem é o festeiro, se é que há. Não conheço os padres ou organizadores. Eles pecam. Faz tempo. E não se redimem. Explico: Ano passado eu e alguns amigos saímos da Fundart (Fundação de Arte de Cultura de Ubatuba) e resolvemos dar nossa contribuição à Festa e conversarmos com possíveis remanescentes do que sobrou de Ubatuba. Impossível. O barulho abjeto do som transformara a Praça Exaltação da Santa Cruz no seu inverso. O tum-tum-tum era infernal. O local que deveria servir de ponto de encontro, bate-papo entre amigos, confraternização servia ao seu oposto. Os organizadores de tal evento são surdos? Querem banalizar os festejos a ponto de não mais havê-los? As pessoas que trabalham nas barracas são imunes ao som? Os turistas? Havia? Este ano a um quilômetro de distância, em casa, janelas fechadas, por várias vezes ouvi a insensibilidade dos que querem banalizar a Festa do Divino. Só pode ser banalização. O que tem aquele tum-tum-tum com a Festa? E a lei do silêncio? Quem deu essa liberdade à Igreja de infringi-la impunemente? Estamos no Brasil. Temos Lula, os 40 ladrões e queremos alegrar a galera, alguns dirão. Não é essa a função da Igreja. Dela deve partir o exemplo. Sem o som abjeto que é imposto a quem freqüenta e muito menos a quem está alhures. Por que não convidar a Banda, o Sexteto de Sopro e outros do mesmo nível? Por que não apresentá-los, apoiá-los nessas noites? O tum-tum-tum eletrônico só afasta os que irão gastar e atraem os iconoclastas que se fortalecem no dia-a-dia do abominável, na imanente certeza de que nada vale a pena, só o momento efêmero e circundante. A Festa do Divino tem o dever de resgatar o que está perdendo. Como diz o nome é festa voltada para o transcendente. O som deve acompanhar esta qualidade assim como a idéia que vem do alto.
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