A partir dos anos 1990, com o advento da globalização, a participação da mulher no mercado de trabalho se intensifica. A nova relação econômica mundial proporciona mais e novas oportunidades de trabalho para a mulher - o setor de tecnologia é um bom exemplo disso - abrindo a possibilidade para a construção de uma carreira executiva, posição até então atingida por pouquíssimas profissionais. Ao mesmo tempo, entretanto, as mulheres carregam uma carga extra porque continuam sendo as principais responsáveis pelas atividades domésticas e cuidados com os filhos e demais familiares. Dados da pesquisa "Padrão de Vida", do IBGE, realizada em 1996-1997 indicam que 79% delas se dedicam a afazeres domésticos. Apesar disso, as mulheres vêm conquistando seu espaço e consolidando seu trabalho como executivas. Segundo dados da pesquisa "Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas", realizada pelo Instituto Ethos em 2003, no Brasil as mulheres representam 50% da força de trabalho em geral, 35% do quadro funcional das empresas, 28% dos profissionais em nível de supervisão e 9% em nível de direção. Se há pouco mais de dez anos apenas 5% dos executivos brasileiros eram mulheres, hoje cerca de 30% desses postos são ocupados pelo "sexo frágil", um aumento significativo que aponta proporção semelhante a países da Europa, como a França. O preconceito também segue padrões internacionais. Seja no Brasil, na América, na Ásia ou no Velho Mundo, as mulheres executivas percebem remunerações menores do que os homens, embora ocupem os mesmos cargos, tenham preparo igual ou superior e enfrentem as mesmas responsabilidades. Não há números definitivos sobre essa diferença de rendimentos, que pode variar de 11% a 25% dependendo do setor de atividade. A luta pela igualdade de gênero no trabalho e a busca do sucesso profissional começam a produzir uma "nova executiva do Século 21". Se nos anos 1990, as mulheres executivas eram mais velhas e com filhos, hoje elas são mais novas e, solteiras ou casadas, estão fortemente focadas na carreira. Pressionada pela conjuntura de mercado, que exige que se construa uma carreira sólida até os 40 anos, a nova executiva prefere sacrificar a vida pessoal e familiar em busca do sucesso e de uma vida financeira estável. Depois dessa idade, atingir cargos de gerência e diretoria passa a ser uma tarefa mais difícil, tanto para as mulheres quanto para os homens. As executivas solteiras abrem mão de uma vida social mais intensa, de curtir momentos de alegria com maior freqüência, adiam planos de casamento e, até apoiadas pelos progressos dos métodos de reprodução assistida, postergam a gravidez. Muitas executivas casadas estão revendo seus casamentos à procura da melhor maneira de conciliar seus compromissos profissionais com as obrigações domésticas e familiares. É justamente nessa hora que o papel do cônjuge - seja marido, parceiro ou namorado - é mais fundamental ainda. Tarefas domésticas como tomar a lição de casa, levar filhos à escola, ao judô, ao balé, à aula de línguas, fazer compras etc., devem ser partilhadas com alegria. O único risco que a moderna mulher executiva corre - na verdade também os homens - é "queimar etapas da vida", ou seja, talvez por uma preocupação exacerbada com o sucesso profissional, deixar de viver momentos e emoções que seriam importantes no seu crescimento como ser humano. Isso é uma questão importante, mas particular, e que deve ser considerada e resolvida quando se opta por este ou aquele caminho. Nota do Editor: Ana Maria Miralla Ronzi é consultora associada da Transearch Brasil.
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