Se os estudantes do Brasil estivessem na mesma classe que os de China e Coréia, países com os quais o Brasil disputa o holofote das atenções mundiais, eles certamente seriam os últimos da turma. É o que se pode concluir do resultado do Prova Brasil, exame feito pelo Ministério da Educação para avaliar o desempenho dos estudantes da rede pública de ensino. Segundo os resultados do teste, divulgados há dois meses, um aluno de oitava série sabe o mesmo que um de quarta série de outros países. Isso significa, na prática, que ele não consegue fazer operações elementares de matemática nem perceber a idéia do autor de um texto curto e simples. Na média brasileira, um aluno de quarta série não sabe ver as horas em um relógio de ponteiros, não consegue ler um texto simples e não se mostra preparado, por exemplo, para multiplicar e dividir números com dois algarismos. As conclusões do Prova Brasil não chegam a ser surpresa a considerar os mais recentes exames do Saeb - Sistema de Avaliação da Educação Básica que classificaram o desempenho dos alunos brasileiros oscilando entre os níveis "crítico" e "muito crítico". Reforçam os testes internacionais do PISA, que invariavelmente vem apontando o Brasil na lanterna da tabela mundial de língua, matemática e ciências. A surpresa ficou por conta do resultado da primeira parte de um estudo exploratório, feito também pelo MEC, segundo a qual os pais admitem estar satisfeitos com a educação básica pública. É notória a existência de uma distância importante entre percepção e o fato, algo que deve merecer análises mais específicas e especializadas. No entanto, essa distância - qualquer que sejam os motivos - permite concluir que os pais do Brasil ainda não se mostram exigentes em relação á escola. Pouco críticos, parecem se satisfazer com a vaga e a merenda, repassam a responsabilidade por educar ao Estado, participam quase nada do cotidiano escolar e não se encontram preparados para avaliar a qualidade do ensino oferecido aos filhos. O Compromisso Todos Pela Educação, nasce com o propósito de mudar esse quadro. Movimento articulado por líderes da sociedade civil e de empresas, em sintonia fina com MEC, Consed (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação) e Undime (União nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), dá início às suas atividades inspirado pela crença de que a educação brasileira só vai melhorar quando o brasileiro souber lhe dar o devido valor, avaliar os elementos que definem a sua qualidade e pressionar as escolas de suas comunidades por uma oferta melhor. Isso parece pouco. Mas não é. Trata-se de uma importante mudança de natureza cultural. O Todos Pela Educação não é um projeto, um evento ou uma campanha de propaganda para despertar a atenção sobre o tema educação. Trata-se de uma ação permanente de 16 anos, acima de partidos, pessoas, organizações e governos, aberta á participação de todos os brasileiros que atribuem á educação a importância de uma política pública fundamental para a construção de um país mais justo. O Compromisso não quer intervir diretamente na escola. Sua proposta é "qualificar a demanda" por uma educação básica de qualidade, utilizando estratégias de comunicação que mobilizem e orientem os pais, educadores, líderes comunitários e diferentes públicos relacionados ao universo da educação, estimulando-os a avaliar a qualidade da escola. O seu diferencial mais importante é o tipo de resultado que espera atingir. E também a forma pela qual se prestará a acompanhá-lo. Um comitê técnico formado pelos mais importantes especialistas em educação, sob a coordenação de Viviane Senna, elaborou cinco metas simples, viáveis e desafiadores que servirão de norte para um horizonte estabelecido em 2022, ano do Bicentenário da Independência. A meta 1 estabelece que até esta data, 98% das crianças e jovens de 4 a 17 anos estarão na escola. Hoje, 97% de brasileiros entre 7 e 14 estão matriculados na rede pública. Já entre os que têm 4 e 17 anos, são apenas 88%. De acordo com a meta 2, toda criança de 8 anos deverá saber ler e escrever. E pela meta 3, no mínimo 60% dos alunos deverão aprender os conteúdos apropriados para a sua série. Segundo o Saeb, hoje apenas 25% dos alunos atingem esse nível em português, e 10%, em matemática. Já a meta 4 prevê que 80% dos jovens deverão ter completado o Ensino Fundamental até os 16 anos e 70%, o Ensino Médio até os 19 anos - o cumprimento dela exigirá, na prática, um avanço de, no primeiro caso 32%, e no segundo, 34%. A meta 5 refere-se ao financiamento público necessário para assegurar a realização das quatro metas anteriores: até 2011, e pelos onze anos seguidos, o investimento em educação básica precisará ser de 5% do PIB, um significativo avanço em relação aos atuais 3,5%. Mais do que desejável, atingir as cinco metas é viável. Mas exigirá de todos nós interesse apaixonado, quase obsessivo pelo tema. E demandará ainda maior participação na vida escolar, cooperação entre os diferentes públicos relacionados á escola e sinergia entre organizações da sociedade civil, empresas e governos. O Todos pela Educação representa um momento histórico. Simbolicamente, representa uma espécie de segundo grito da Independência. Com escola boa para todos e garantia de oportunidades iguais para crianças e jovens, poderemos, quem sabe, comemorar em 2022 o Bicentenário da Independência de um país desenvolvido, justo e inclusivo.
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