"Há pelo menos um quarto de século o nosso país navega sem rumo, vale dizer, sem projeto". A afirmação fez parte do discurso feito dia 11 pelo professor e jurista Fábio Konder Comparato, medalha Ruy Barbosa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na sessão de instalação do Fórum da Cidadania para a Reforma Política, na sede da OAB nacional. Para Comparato, que coordenará o Fórum, é preciso instituir uma democracia autêntica, fundada na soberania popular ativa, para que haja a regeneração da vida política brasileira. "À medida que se agravam os problemas sócio-econômicos, ligados ao desenvolvimento nacional, as respostas dadas pelo Estado tornam-se ridicularmente desconexas, como se estivéssemos todos embarcados numa nau carente de pilotagem". Ao defender um amplo e efetivo projeto de reforma política para o país - objetivo do Fórum lançado na OAB -, Comparato não criticou um governo especificamente, mas as políticas assistencialistas das duas últimas gestões que, em sua opinião, abusaram de uma política "insensatamente recessiva". Ele apontou como exemplos o programa Comunidade Solidária (do governo de Fernando Henrique Cardoso) e o Bolsa-Família (do presidente Luiz Inácio Lula da Silva). "Obviamente, é muito mais fácil e produz melhores dividendos eleitorais pagar R$ 60,00 por mês a cada família pobre ou miserável, do que criar postos de trabalho para os dois milhões e trezentos mil jovens que, todo ano, ingressam no mercado de trabalho", comparou Fábio Comparato. "Ora, até mesmo essa apregoada generosidade é falsa. É preciso saber que o total dos dispêndios do governo geral com o programa Bolsa-Família, em todo o exercício financeiro de 2005, equivaleu a menos da metade do que foi pago mensalmente com o serviço da dívida pública". O medalha Ruy Barbosa da OAB criticou, ainda, a radical incapacidade dos governos brasileiros de cumprir os artigos que a Constituição Federal considera fundamentais. "Trata-se de propor a recriação ou refundação, sobre novas bases, não apenas das instituições, mas também dos costumes políticos vigentes em nosso país", afirmou Comparato. "Cabe, portanto, a este Fórum de reforma política propor soluções para o magno problema do desajuste estrutural do Estado brasileiro, no cumprimento de sua função constitucional de realizar os objetivos fundamentais, fixados no artigo terceiro da nossa Constituição". Comparato é, ainda, presidente da Comissão de Defesa da República e da Democracia da OAB.
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