Divulgação      Demoiselle.

O dia 30 de setembro entrará para a história da aviação mundial. Nessa data, o Flyer, avião projetado pelos norte-americanos Orville e Wilbur Wright, e o Demoiselle, segundo e melhor avião de Alberto Santos Dumont, voarão juntos pela primeira vez na história.

"No ano do centenário da aviação, duas instituições privadas do Brasil e dos Estados Unidos deixam de lado a eterna discussão sobre quem é o Pai da Aviação e partem para a celebração desse feito fantástico, que revolucionou o transporte, uniu distâncias e redirecionou a própria vida no último século", assinala Fernando de Arruda Botelho, idealizador do Projeto Demoiselle, entusiasta pela aviação e pela história de Santos Dumont.

Botelho, que estará no comando do Demoiselle, é presidente do Instituto Arruda Botelho (IAB), instituição sem fins lucrativos de valorização da história brasileira, preservação do patrimônio histórico nacional e do meio ambiente, apoio às comunidades pesqueiras em Paraty (RJ) e a feira de aviação Broa Fly-In.

O evento de 30 de setembro fará parte da "Flight Feast", em Dayton, estado de Ohio, Estados Unidos, e é iniciativa da Fundação Irmãos Wright, presidida por Amanda Wright, neta dos primeiros norte-americanos a voar.

"Homenagem ao gênio Santos Dumont" - O Projeto Demoiselle foi desenhado pelo Instituto Arruda Botelho para prestar justa homenagem ao poder criativo de Alberto Santos Dumont. O Demoiselle é o seu segundo avião, menos conhecido que o 14 BIS, mas de excepcional estrutura, que influenciou toda a indústria da aviação - especialmente a francesa - no começo do século 20.

"Santos Dumont foi um gênio. Além de engenheiro aeronáutico de extrema capacidade, foi fantástico como desenhista, mecânico e piloto. O seu trabalho tem de ser mais valorizado no País, assim como o é no exterior", ressalta Fernando de Arruda Botelho. "O feito de Santos Dumont deve ser motivo de orgulho para nós, brasileiros, e servir de exemplo para o País. É preciso acreditar em nós, assim como o Pai da Aviação acreditou em si há um século".

O Instituto Arruda Botelho já concebeu três réplicas do Demoiselle e constrói uma outra. Neste momento, duas delas - feitas pelo construtor Alvarino Paulo com base nas plantas publicadas na revista Mecânica Popular de 1910 - estão nos Estados Unidos.

Uma está exposta até 22 de setembro na Sinclair Community College, em Dayton (Ohio). É esta que será utilizada no vôo ao lado do Flyer, no próximo dia 30.

A outra réplica será mostrada entre 16 e 23 de outubro na Smithsonian National Air and Space Museun, importante evento da aviação em Washington, capital dos Estados Unidos, que faz parte da Semana da Aviação norte-americana, e deve receber mais de 10 milhões de visitantes.

Além de inédito, o vôo do Flyer com o Demoiselle terá testemunhas históricas. O Instituto Arruda Botelho levará aos Estados Unidos oito brigadeiros brasileiros para acompanhar o evento. Entre eles, três combatentes na 2ª Guerra Mundial (Brigadeiros Rui Moreira Lima, José Ribeiro Meira Vasconcelos e Fernando Correa Rocha), membros do Esquadrão Senta-Pua, que voaram com o chamado Esquadrão 350, dos Estados Unidos. "A ida dos brasileiros está merecendo tanta consideração que combatentes norte-americanos do Esquadrão 350 irão recepcionar nossa comitiva em Dayton", informa Paulo de Tarso Serpa Fagundes, diretor do IAB.

Planos arrojados - Em 11 de agosto, o Demoiselle, sob o comando do piloto Fábio Nunes Paulo, fez a travessia Paraty/Angra dos Reis, no litoral carioca, percorrendo 52 km em 55 minutos. Foi o primeiro de vários projetos.

No mesmo dia 30 de setembro, quando o Demoiselle estará nos Estados Unidos, voando ao lado do Flyer, outra réplica do avião será exposta na Tarde Turfista do Jockey Club de São Paulo, que homenageará a Força Aérea Brasileira.

Até o final do ano novos vôos devem ser realizados. Mas o ponto alto será em 2007, quando serão comemorados os 100 anos do Demoiselle. "No próximo ano, nosso grande objetivo é voar sobre o Canal da Manha, que liga a França à Inglaterra, distância de 36 km", diz Fernando de Arruda Botelho.

"Estou convencido de que os obstáculos de tempo e distância serão removidos. As cidades exiladas na América do Sul entrarão em contato direto com o mundo de hoje. Os países distantes se encontrarão (...). Os Estados Unidos e os países sul-americanos se conhecerão tão bem como a Inglaterra e a França se conhecem (...). Anulados o tempo e a distância, as relações comerciais (...) se desenvolverão espontaneamente (...). Seremos mais fortes nos nossos laços de compreensão e amizade. Tudo isso, senhores, será realizado pelo aeroplano".

Alberto Santos Dumont
Washington, EUA, 28.12.1915