O Orkut nasceu como um espaço de integração, mas virou um campo fértil para a proliferação de comunidades criminosas
O Orkut, maior site de relacionamentos do mundo, pode deixar o Brasil em função dos abusos cometidos por seus usuários. O site, que nasceu para proporcionar reencontros e reunir amigos, se tornou terra de ninguém. Todos os tipos de absurdos podem ser encontrados no Orkut: agendamento de brigas de torcidas, venda de drogas, pedofilia, apologia a atitudes imbecis ("Eu bebo e dirijo"), páginas em homenagem a traficantes ("Eu adoro Marcola"). Os usuários criaram perfis e comunidades criminosas, incitam o ódio e discriminação racial, étnica e de gênero, além de crimes contra a vida, com incentivo ao suicídio e ao homicídio, apologia ao estupro, rituais satânicos e, o mais leve deles, o uso de lança-perfume. Os abusos têm deixado em estado de alerta a Polícia e o Ministério Público Federal, que estão exigindo do Google, que hospeda o Orkut, o fornecimento dos dados dos usuários para investigações criminais. O Orkut, por sua vez, reagiu ameaçando deixar o país. No final das contas, o acordo foi feito e os dados serão cedidos pela matriz americana da empresa, a Google Inc. Até então, a empresa só cedia informações sobre autores de crime de pedofilia no Orkut. Mensagens discriminatórias não tinham seus autores identificados. O Google argumentava que o sigilo dos autores de tais mensagens era protegido pela legislação dos Estados Unidos, país onde estão os servidores do site de relacionamentos Orkut. Ao mudar sua posição, o Google explicou que os pedidos do Ministério Público brasileiro são pontuais e justificados. A área do direito que rege esse ambiente está se aprimorando para correr atrás da velocidade em que os crimes acontecem na rede. "Tudo é muito rápido pelo computador e as leis tem seus processos burocráticos para serem aprovadas e impostas", esclarece a advogada Patrícia Peck Pinheiro, especialista em Direito Digital. Nos cybers-café de São Paulo - local de onde se pode acessar a Internet - já existe uma lei estadual que determina que os usuários devem se identificar e apresentar RG. "É lei, mas muitos ainda não cumprem", diz a advogada. Comunidades criminosas - As comunidades criminosas se proliferam pelo Orkut porque seus usuários acreditam que nunca serão pegos. Ledo engano. Os internautas que usam o Orkut como palco ou mural de recados (scrapbook) criminosos, podem ser presos a qualquer momento. É extensa a lista de criminosos virtuais caçados pela polícia, que já conta com aparelhos sofisticados de rastreamento por IP (endereço para rastreamento eletrônico). No último dia 18, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) prendeu um jovem de 23 anos - cujo nome não foi revelado para não atrapalhar as investigações - que montou no Orkut a comunidade "Eu odeio TCP/ADA", página destinada à apologia da quadrilha conhecida como Comando Vermelho, criada no Rio de Janeiro. Segundo o DRCI, muitas comunidades que pregam o crime no site de relacionamentos foram catalogadas e já estão sendo investigadas. O foco da delegacia é voltado para crimes que pregam a liberdade de criminosos e rogam homenagem a lideranças do tráfico. É o caso de páginas relacionadas com o PCC - Primeiro Comando da Capital -, liderado por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que se tornou um verdadeiro sucesso de público e crítica. Além de 12 perfis do criminoso, todos repletos de "amigos", estão cadastrados mais de 40 comunidades relacionadas a ele, sendo amplo o rol dos fãs. Sete comunidades, com cerca de 200 pessoas cada, pedem "Marcola Presidente" da República. Comunidades de humor duvidoso, como "Tudo cola, até o Marcola", "Matem o Marcola em dia de prova", e "Marcola me fez sair da escola", e mesmo de apologia pura e simples ao criminoso, como "Sou fã do Marcola", são maioria. As que pregam o ódio ao criminoso, desembocam para o radicalismo. É o caso da comunidade "Quero a morte do Marcola na TV", que prega a pena de morte e "o ódio aos direitos humanos". Outras 766 comunidades estão registradas com a sigla PCC. Esse tipo de "propaganda" acaba funcionando como ferramenta de trabalho para os criminosos.
|