Num cenário de juros superlativos como os do Brasil, reduzir temporariamente as margens de lucro, para investir em tecnologia e agregar competitividade, pode ser alternativa de interessante relação custo-benefício. Desde, claro, que a saúde financeira e o fluxo de caixa da organização viabilizem tal estratégia sem gerar riscos. A necessidade de evitar que o aporte de recursos em bens de capital e processos transforme-se numa insólita aventura ante o alto preço do dinheiro no País ficou evidente, de maneira muito enfática, no Índice de Competitividade das Nações, divulgado no início de setembro pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O estudo demonstra, em números e estatísticas irrefutáveis, o que todo empresário sente na prática: o Brasil ainda tem imensos desafios a cumprir no sentido de ganhar posições no mercado internacional e de encontrar meios de crescer de maneira mais consistente, muito além da expansão de 2,3% do PIB em 2005 e do constrangedor 1,2% no segundo trimestre de 2006. Em tempo: este pífio desempenho da economia nacional no presente exercício a classifica como a de pior performance dentre as 28 nações que já divulgaram resultados inerentes ao mesmo período. É o que indica comparação feita com base em dados compilados pela revista Economist. O baixo grau de competitividade deixa apenas duas possibilidades para que e Nação empreenda um ciclo duradouro de prosperidade: investir em tecnologia ou investir em tecnologia! Não há outra opção e possibilidades de caminhos para concorrer na economia globalizada, num mundo em que, cada vez mais, dependência tecnológica é sinônimo de subserviência. Não há mais como refutar as teses de grandes economistas dos anos 90, de que o conhecimento estava se tornando, muito mais do que em todas as eras da história, fator absolutamente decisivo para o universo produtivo. O imenso e lamentável contraponto brasileiro a esta tácita e irreversível tendência é o conjunto de obstáculos internos à grande lição da competitividade: a visão meramente monetarista da política econômica, o anacrônico controle da inflação por meio dos juros altos e câmbio sobrevalorizado, a ausência de crédito, política industrial débil, legislação burocrática e jurássica e os gargalos da infra-estrutura. Estas distorções explicam, em boa parte, o porquê de o País situar-se no 38º lugar, dentre 43 nações, no ranking elaborado pela Fiesp. Capitular e aceitar tais problemas como desígnios de um imutável destino terceiromundista? Jamais! De fato, os obstáculos internos prejudicam muito a competitividade da economia e da indústria brasileiras, mas é preciso que cada empresa, numa atitude de superação, procure fazer sua lição de competitividade, investindo em tecnologia e conhecimento, embora se deva reconhecer o quanto é difícil mobilizar capital em meio aos juros mais altos do mundo e paralelamente divulgar ao povo a política desastrosa para que ele possa ter elementos para uma votação mais consciente, em políticos que possam administrar melhor. Uma alternativa aos usurários juros superlativos nacionais para investir em tecnologia, agregando a indispensável competitividade, é reduzir por determinado período as margens das empresas, carreando os recursos ao aporte de conhecimento, equipamentos e processos de ponta. Exemplos de várias organizações que empreenderam com sucesso iniciativas semelhantes são estímulos à prática. Além deste esforço individual no âmbito de cada empresa, resta a esperança, a ser fortalecida pelo civismo, de que a democracia brasileira, que atinge emblemática maioridade em 5 de outubro próximo, nos 18 anos da Constituição de 88, converta-se de modo crescente em desenvolvimento. E, para isso, é importante que nossos políticos também tenham mais consciência de seu papel, provocando avanços mais significativos na redução dos custos governamentais e aplicando este valor em escolas, saúde e segurança. Nota do Editor: Dimas de Melo Pimenta II, economista, é presidente da Dimep e diretor do Departamento Sindical (Desin) da Fiesp.
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