Sexto produtor mundial de orgânicos em área cultivada, mas desconhecido por 60% da população. O promissor mercado brasileiro do gênero conta com iniciativas pioneiras que vêm aumentando o grau de consciência socioambiental. Pelo menos três empreendimentos se destacam em São Paulo: uma indústria de cosméticos orgânicos e uma certificadora em Botucatu, no oeste do Estado, e uma cooperativa que cultiva e distribui gêneros naturais no litoral norte. O mercado de orgânicos, que cresce na casa dos 50% anuais, movimenta R$ 100 milhões por ano no Brasil e U$ 26,5 bilhões no mundo. Por aqui, já são 6,5 milhões de hectares ocupados exclusivamente por culturas livres de agrotóxico, obedecendo aos princípios da biodinâmica, de sustentabilidade ambiental. Atualmente, 75% da produção é exportada para Estados Unidos, Japão e países da Europa. Os números ratificam a tendência traçada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária): em 10 anos, o Brasil pode se tornar o maior exportador mundial de orgânicos. Botucatu, por exemplo, conta com uma indústria de cosméticos orgânicos e já abriga um pólo de produção e desenvolvimento do setor. Trata-se da fazenda Demétria, na zona rural do município. O caminho foi aberto pela Magia dos Aromas, que pesquisa e desenvolve produtos de saúde e beleza com matéria-prima orgânica. A iniciativa foi de uma família de farmacêuticos, que construiu na região um moderno laboratório, cujo parque industrial dispõe de equipamentos de última geração. O catálogo de produtos reúne atualmente 29 itens, de sabonetes e óleos vegetais a extratos e óleos essenciais. As matérias-primas são provenientes da flora brasileira, principalmente da Amazônia, e de plantas européias tradicionais, como alfazema e arnica montana. "Enquanto em outros países a produção de orgânicos decorre da substituição de insumos, o conceito aqui é o de agroecologia, que pressupõe conservação e longevidade dos recursos naturais. Este diferencial brasileiro deve ser explorado", explica Marcos Caram, diretor da Magia dos Aromas. A produção de qualquer derivado de gêneros orgânicos é certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD), responsável por validar não apenas o produto, mas toda a cadeia. Com atuação na América do Sul, o órgão inspeciona e orienta o cultivo e o processamento segundo normas e práticas que garantam a procedência isenta de contaminação química e o respeito ao meio ambiente e ao trabalhador. Para que um produto seja considerado orgânico, é necessário pelo menos 95% de matéria-prima orgânica. Outro reflexo deste novo cenário pode ser visto em alguns municípios entre o litoral norte e o Vale do Paraíba. Por lá, as cidades de Natividade da Serra, Salesópolis, Paraibuna, Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela comemoram a criação da Cooperlin (Cooperativa dos Produtores Rurais e Urbanos do Litoral Norte do Estado de São Paulo), que, além de obedecer ao conceito de biodinâmica, dispõe de tecnólogos e engenheiros agrônomos especializados em agroecologia. A cooperativa foi idealizada por 21 fundadores e criada para melhorar a renda dos pequenos produtores a partir da produção de orgânicos. A iniciativa surgiu de uma experiência da ONG Povos do Mar, que recebe recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Para abastecer a região, a Coperlin oferece 48 variedades de produtos hotifrutis. Parcerias com a Agrocampo e a ONG Plantando o Futuro garantem facilidades para a compra de insumos e materiais de consumo. "O objetivo é resgatar a tradição agrícola dos municípios litorâneos do norte do Estado, gerando renda e empregos aos cooperados e às comunidades envolvidas, barateando os preços e melhorando a qualidade dos produtos", diz Roberto Gadducci, administrador da cooperativa, que acaba de receber o registro na Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo).
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