Para chegar a formular o pensamento de que a agricultura deve ser uma premissa para o turismo, aquele turismo de alto nível, tão desejado, foram vários anos de vivência, num processo de amadurecimento, de prática e teorização. Já é uma história. Desde a lei 711 “Plano Diretor” de 1984, quando recebemos do Dr. Sergio Sígolo (tão gentil pessoa) 15 cópias para estudo dos jovens do PCdoB, depois passamos pela Lei 1500, o PDDI - Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (também a nós oferecido pelo Dr. Sérgio) até as mais recentes discussões da Lei de Uso do Solo, PL-106, nem tão recentes 2004 (agora tenho que falar de outra gentil pessoa, o Eng. Mauro, presidente da Associação dos Engenheiros). Tudo isso por meio das pessoas, mesmo porque as idéias não medram no ar, mas nas pessoas. Desde então, dizia eu, vem um longo percurso de discussão e amadurecimento. Esse processo passou pela vulgarização da expressão “agricultura familiar” trazida pelo sindicato, em 1996, e depois pela vulgarização das expressões Agricultura Caiçara e Agricultura em SAF, Sistema Agro Florestal, isso mais recentemente, depois de 2001, pelo trabalho técnico e sócio-político da Secretaria Municipal de Agricultura. Acredito sinceramente que é o embate das idéias que favorece a possibilidade da transformação. No abandonar o senso comum e caminhar para o conhecimento científico, encontro um objetivo de valor. No desenvolvimento humano encontro a melhor meta. Mas como quer a realidade, tudo está permeado pela ideologia e pela política, esta também ideológica. Ideologia é uma expressão para a qual encontrei boa definição em Marilena, a Chauí da USP. Para ela, ideologia inevitavelmente destinada a escamotear as relações de classe. Temos consciência do nosso papel. Aí está 2006. Chegamos ao Plano Diretor. Nós da Agricultura, com grande espírito de cooperação e construção coletiva, acrescentamos, graças ao esforço final do presidente da SASU, Sociedade de Amigos do Sertão do Ubatumirim (o Junior) dois itens, o VI e o VII no artigo 75 e depois nas emendas uma palavrinha a mais - “rural” - nos artigos 160 e 162. Também conseguimos pelo artigo 77, colocar nos anexos o Plano Estratégico da Agricultura, pois se é estratégico é para ser desenvolvido no tempo e no espaço e revisto em suas metas, objetivos e ações, ao longo de um prazo de tempo. Enfim, depois de toda essa prática de participação e envolvimento, fomos à teoria, pois afinal ela, a teoria, nasce da prática, como nos ensina o “bê-á-bá” da metodologia das ciências experimentais. Os políticos, esses também se aperfeiçoaram na escola da vida. Falo dos nossos vereadores como a Luciana, o Jairo, o Edílson, o Osmar, enfim todos que nos apoiaram nas emendas, as quais o Sindicato foi o encarregado, pelas comunidades, de apresentar. Agricultura é premissa do turismo? De onde vem essa esquisitice? Por que? Porque, depois da acumulação de práticas e estudos desde 1993 até os últimos anos, a agricultura de Ubatuba encontrou o seu caminho. Sabe agora que precisa caminhar no manejo florestal, nas práticas de SAF, Sistemas Agro Florestais, e na agricultura orgânica visando a Produtividade, a Renda e a Paisagem. Os produtores, em sua maioria, já foram convencidos. O Grande Verde, premissa da Lei de Uso do Solo, é a premissa do Turismo, nossa atividade maior. Bem diz o Baeco, filho do Sr. Agrício “turista planta grama e asfalto”. Completamos: “caiçara planta roça caiçara” que em linguagem científica é um modelo de SAF. Imaginem, além dessa tecnologia adequada à região de Mata Atlântica, como está no Plano Estratégico, ainda termos renda, emprego e uma merenda de qualidade com pelo menos 20% de compra local, como deveria ser este ano. É o paraíso na terra. É preciso construção coletiva e competência para não deixar ninguém de fora, pois, como diz o poeta, “vamos precisar de todo mundo e dois é mais que um”. Nota da Autora: Naides Alves de Lima é Bel. em Química pela UFBA, membro do Conselho Consultivo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e há 33 anos ubatubana.
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