Os bons resultados atingidos pelo programa Criança Segura Pedestre em Curitiba e São Paulo levaram a Ong a elaborar um guia para sua implementação, disponível a qualquer pessoa, sem custo algum
As recentes ocorrências de crianças vítimas de atropelamentos no Paraná incentiva organizações a reforçarem a divulgação do programa Guia Criança Segura Pedestre, que orienta pais, responsáveis e crianças a se comportarem corretamente diante do trânsito. O objetivo do guia é orientar comunidades em áreas de risco por atropelamentos, a desenvolverem um projeto de redução desses acidentes. Outra finalidade é orientar com dicas de como se comportar, buscando mobilizar a população para atuar ativamente na busca de um trânsito mais seguro. Esse Guia foi desenvolvido a partir da experiência de cinco anos de atuação da ONG Criança Segura, implantando programas em áreas de risco, com o incentivo da empresa paranaense Perkons S.A. O Guia é uma ferramenta de auxílio aos órgãos governamentais de trânsito, organizações da sociedade civil e comunidades, que possam desenvolver os seus programas de redução de atropelamentos, já que, segundo dados do Ministério da Saúde, em 2003, seis mil crianças morreram e outras 140 mil foram hospitalizadas em decorrência de acidentes. Quase a metade desse número de mortes é resultado dos acidentes de trânsito. Foram, aproximadamente, 2.446, ou 40,8% deles. Entre esses dados, 623 eram ocupantes de veículos, 134 ciclistas, 497 acidentes em veículo não identificado e 1.192 eram pedestres. Estudos comprovam que 90% desses acidentes poderiam ser evitados com simples atitudes de prevenção. Perfil das crianças que correm riscos As crianças que estão na faixa etária entre cinco e 10 anos estão entre as mais atingidas porque nessa idade estão no início da vida escolar e ainda não têm maturidade para realizar a travessia de uma via com segurança. Acima dos 10 anos há redução na taxa de mortalidade, mas registram-se óbitos em 70% das vítimas nessa faixa etária, causados por acidentes de trânsito envolvendo passageiros ou condutores de veículos. Devido à sua baixa exposição, as crianças menores de cinco anos, normalmente, não apresentam índices significativos de taxas de mortalidade por atropelamento, pois quase sempre estão sob vigilância ou em companhia mais intensa dos pais ou responsável. Nessa idade é preciso saber a melhor forma de andar com uma criança pelas vias. "É preciso segurá-las pelo pulso, e não pelas mãos. Pelo pulso é mais difícil a mão da criança escorregar das mãos do adulto, e nesses impulsos freqüentes que os pequenos têm de sair correndo a qualquer momento, segurá-la pelo pulso garante mais firmeza, segurança e ajuda a prevenir acidentes", ensina Alessandra Françóia, coordenadora regional da ONG Criança Segura. Cassiano Ferreira Novo, psicólogo e especialista em trânsito, comenta que é consenso entre os estudiosos do desenvolvimento infantil, que crianças menores de dez anos ainda não se encontram amadurecidas para perceber e para reagir de forma segura diante do trânsito. "Elas ainda não dispõem de condições que lhes permita interpretar adequadamente os riscos e as sinalizações que o trânsito oferece", diz. Os meninos são as maiores vítimas dos atropelamentos. A maioria dos acidentes se concentra no mesmo bairro de moradia e acontecem à tarde. Foram mapeadas as ocorrências atendidas pelo SIATE e se percebeu uma grande incidência próxima a escolas. Outro fato é que as crianças não têm condições de julgar o trânsito, o tempo que ela demora a atravessar a rua e a distância e velocidade que o veículo está. Atropelamentos mais comuns Em cerca de 80% dos casos, o pedestre é atingido pela dianteira de um veículo. A idéia de que, em um atropelamento, o veículo "passa por cima" do pedestre não coincide com o que ocorre na maior parte dos casos. O fato mais comum é aquele em que o pedestre, após o choque com a frente de um veículo, rola sobre o capô e sobre o pára-brisa do veículo que o atinge. Praticamente todos os traumas e todas as fraturas que um pedestre sofre centram-se na região pélvica e nas pernas, e são causadas pelo contato com o veículo e não com o solo. Dr. Marcelo Ribas Alves, médico cirurgião pediátrico e consultor da ONG Criança Segura em Curitiba, avalia que o trauma para uma criança que sobrevive a um acidente como esse não é só físico. "Regressão no perfil psicológico e medo são diagnósticos comuns nas crianças, que podem comprometer seu desenvolvimento e sua vida adulta". Em crianças com idade abaixo de cinco anos, as lesões mais comuns são as na cabeça e no pescoço, e a explicação mais provável para essas lesões é atribuída à altura da criança em relação aos pára-choques dos veículos envolvidos. A criança é atingida pelo pára-choque na parte mais alta dos membros inferiores e no tronco, que colide com a dianteira do capô do veículo. Locais de atropelamentos Segundo dados do DENATRAN (2002), mais de 70% dos acidentes de trânsito com vítimas no Brasil são registrados nas vias municipais e as lesões em crianças motivadas por acidentes de trânsito ocorrem nas proximidades do local de moradia, justamente porque é nesse espaço em que elas transitam a maior parte do tempo. Outro dado interessante é que o local dos atropelamentos é 2,5 vezes maior por quilômetro em ruas de sentido único do que em ruas de sentido duplo. Como reverter esse quadro Os acidentes de trânsito são considerados, pela maioria da população brasileira, uma fatalidade, algo que acontece ao acaso, ocorrência inevitável. "Ao contrário do que se pensa, poderiam ser evitados 90% dos acidentes casos se adotassem medidas simples, baseadas na conscientização e na mudança de comportamento dos pais e dos responsáveis no cuidado com as crianças, dentro e fora de casa", afirma Alessandra Françóia, que dá algumas dicas para promover a segurança da criança como pedestre. "O mais importante é dar bom exemplo, praticando as regras de trânsito. Outra questão é não deixar que crianças menores de dez anos atravessem as ruas sozinhas e ensinar às crianças as regras da rua", ressalta. Entre os ensinamentos estão identificar os sinais de travessia para pedestres, os locais seguros para as crianças brincarem, a utilização de um trajeto mais reto, com poucas ruas para atravessar, além da utilização de materiais reflexivos nas roupas das crianças. "É preciso ensinar às nossas crianças os riscos de atravessar a rua entre os veículos estacionados ou nos cruzamentos. As crianças devem atravessar somente nas esquinas e nas faixas de pedestres, não atravessar diagonalmente ou entre os veículos estacionados, por trás das árvores e de postes", ensina. Além disso, é preciso olhar para os lados, várias vezes, antes de atravessar a rua. Guia ao alcance de um click A CRIANÇA SEGURA desenvolveu um guia prático do programa Criança Segura Pedestre, com o patrocínio da Perkons S.A. para que os interessados - professores, pais, líderes comunitários e demais mobilizadores - possam realizar o programa em suas comunidades. "Este guia é uma forma da CRIANÇA SEGURA multiplicar a prevenção aos atropelamentos e reduzir o alto número de mortes, sem estar presente fisicamente na região", comenta Alessandra. Qualquer pessoa pode ter acesso a este guia, gratuitamente, apenas acessando o site da CRIANÇA SEGURA (www.criancasegura.org.br). O material já está disponível. "Com este guia, possuímos mais um meio eficaz para atingir nossos ideais, pois tem o potencial de levar mudança de comportamento às mais longínquas regiões, podendo ser aplicado por órgãos de trânsito, escolas e, por que não, por novas Ongs e empresas que somem forças pela causa", explica o diretor da Perkons S.A., José Mário Fonseca de Andrade. Exemplo Em Curitiba algumas escolas participantes do programa Criança Segura Pedestre, como o CAIC Bairro Novo, conseguiu, através da mobilização comunitária, melhorias na sinalização e construção de calçadas na Rua São José dos Pinhais. As escolas municipais Germano Paciornik e Araucária conseguiram a instalação de lombadas eletrônicas. Já a Escola Municipal Leonor Castellano, no Boqueirão, trabalha desde 2003 não só a prevenção aos atropelamentos, mas a todos os acidentes - domésticos e de trânsito. Algumas comunidades, como a Associação de Proteção a Infância - Vovô Vitorino (Curitiba) e a Escola Elizebeth Werka (Araucária/PR), já realizaram as oficinas e estão implantando as capacitações nas suas comunidades. Já em Pinhais/PR, o Centro Profissionalizante Humberto Scarpa e, em Colombo/PR, A ONG Direção Verde, já iniciaram os treinamentos.
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