Minha vida é composta de muitas vidas. Transformações, encontros, desencontros e uma enorme perplexidade em face do Tempo. O encantamento da infância, pessoas que amei e que já não mais são... Sonhos cristalizados em algum meandro do cerebelo. Amores que pareciam eternos, mortos pelas circunstâncias. Sua imagem, Nair, fixada na retina, tão jovem, tão bela, preservada pela memória, do desgaste da velhice. Em algum lugar do passado você está à minha espera, para me redimir dos erros, do pecado e da insensatez, anjo guardião do Santo Graal, em um jardim de acácias e magnólias e hortênsias lilases. Depois, os apelos da carne, confundidos com amor, fabricaram um calidoscópio de males-entendidos. de desgostos e traições, deixando na boca um travo amargo de derrota. Depois, vieram sucessos efêmeros que o Tempo desestruturou, destruiu, apagou... Ambições pueris, miragens de areia e carvão no deserto assustador da rotina. Mas o mundo parou numa tarde de domingo, num bosque encantado de ipês floridos, cristalizado pelo seu sorriso de diva, sua voz sensualmente rouca sussurrando tentações, seu perfume inebriante de mulher, no limite entre a infância de sonhos descomprometidos e a velhice povoada de pesadelos e de fantasmas... Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte . Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros "Por uma nova utopia" (ensaios políticos) e "Quadros de Natal" (contos).
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