Uma revista sem medo de se jogar no ventilador
Uma grande ousadia, no conteúdo e na forma, chega ao mercado editorial do eixo Rio-São Paulo. Uma revista que deixaria satisfeito Walter Benjamin, filósofo das linguagens que fazia questão de relacionar imagem e texto para se alcançar a verdade. Mas, longe do academicismo, "M..." chega com uma linguagem jovem, disposta a falar de forma simples, mas sofisticada, sobre política, cultura, economia e comportamento, tudo isso sem papas na língua. "A revista ‘M...’ é um espaço para que os colaboradores escrevam com a liberdade que não teriam em outro lugar e para que os leitores leiam esse conteúdo sem restrições, tendo em mãos um material gráfico que as outras revistas não possuem", resume o publicitário e redator Silvio Lach, um dos pais do projeto, ao lado dos jornalistas Fernando de Castro e Ulisses Mattos. O título sugestivo de "M..." se explicita sem pudores em alguns dos nomes das seções: Post-Shits, As Solitárias, Experiência pós-M..., Emme Awards, Bom Ar (sobre ecologia), Eu Faço Merda, No Ventilador, Comédia da Vida na Privada, No Matinho, Emissários (cartas dos leitores), Vai para o Trono ou não Vai, Barreira (sobre futebol) e Caderno nº 2, um minisuplemento cultural que falará de música (M...PB), cinema (35MM), literatura (Bost-Seller), TV (M...TV) e teatro (Merda Pra Você). Nada, no entanto, que caia na escatologia ou no humor apelativo. Ao contrário do que pensam os pudicos, a palavra merda nem sempre tem o peso de um palavrão. Muitas vezes, ela é a única forma de expressão de um estado de espírito ou de indignação diante da realidade. Mas, não se engane os que pensam que a revista irá cair no lugar comum e se resumir à crítica política. "A merda está em tudo, na ecologia, na TV, no teatro. A gente propõe fazer uma grande reflexão sobre por que está tudo assim. A idéia da revista não é mudar o mundo, é fazer galhofa, embora no final das contas ela esteja seriíssima", analisa Lach, que atualmente assina uma coluna de humor na Revista de Domingo, do Jornal do Brasil. E é esse o espírito dos textos dos colaboradores, gente de peso e que atua em áreas variadas, como o diretor Jorge Espírito Santo, os atores Ingrid Guimarães e Fernando Caruso (que não escreverão sobre teatro), o músico Gabriel O Pensador (que não discorrerá sobre o rap) e o ombusdman (ou melhor, ombudsm...) Marcelo Rubens Paiva. Primeira edição A grande estrela da primeira edição de "M..." é Clodovil Hernandez, que aparece sentado em uma das privadas de sua casa de Ubatuba, logo na capa. Críticas a Lula, Daniella Cicarelli, Luciana Gimenez, Ulysses Guimarães, Duda Mendonça, à mídia e ao Congresso e até uma denúncia de roubo de votos estão entre as preciosidades faladas pelo recém-eleito deputado federal por São Paulo. Preta Gil também sentou no "trono", não para disparar frases impactantes, mas para um rápido questionário sobre sua carreira como cantora, ofuscada por sua imagem polêmica. E Odair José conta em "Experiência Pós M" como foram os momentos em que passou longe da mídia e de seus tempos de glória, quando Paulo Coelho, quem diria, foi seu assessor de imprensa. Informações reveladas em um bate-papo informal, que até surpreendeu Odair: "Eu tô vendo que isso daqui é mais uma conversa, né?", diz. Só para dar um gostinho a mais, Gabriel O Pensador, agora premiado como escritor (Prêmio Jabuti de melhor livro infantil), estréia como colunista com um irônico texto sobre um suposto provérbio ancestral. Já o cartunista Nani mostra "os plim-plins que não veremos na Globo" e as "galinhas politicamente incorretas". Outro cartunista que contribui com a revista é Andre Dahmer, conhecido pelas tirinhas dos Malvados. Ota, lendário editor da Mad, e o célebre Paulo Caruso completam o time de chargistas convidados no primeiro número. O ensaio fotográfico "Décadence avec Élégance" foge do tradicional ao propor um tema dentro do universo da revista e por utilizar uma linguagem diferente, com toques de pop-art. Joaquim Nabuco, do site Colírio Brasil, assina as fotos da modelo Deyse Krieger, que encarna uma perua que perdeu toda a sua riqueza e hoje mora na Praça Paris, lavando calcinhas no chafariz. O texto é de ninguém menos que o escritor e jornalista Xico Sá. A "M..." também reservou espaço em seu quadro de colunistas para PhDs e doutores em História e Ecologia. Todo esse conteúdo é reforçado por um design de primeira qualidade, assinado pelo diretor de arte Marco Ponce, que contará com a colaboração de designers de renome como Ricardo Leite e Caco Galhardo. Com um formato fora dos padrões (20x23cm), serão impressos 30 mil exemplares, distribuídos no Rio de Janeiro e em pontos de São Paulo. O público-alvo é qualquer um que queira ler algo que normalmente não ganha as páginas da mídia tradicional. "A idéia é fazer o que ninguém pode fazer", diz Silvio referindo-se às limitações impostas pelo mercado à mídia. Campanhas O diferencial já pode ser sentido antes mesmo de folhear a "M...". A primeira ação de lançamento da revista será a campanha "Eu Faço Merda", frase que estampará adesivos distribuídos em blitzen pela cidade. A idéia é mostrar atitudes que parecem insignificantes, mas que contribuem para o caos de uma cidade, como os cartazes de Mãe Valéria de Oxossi, que poluem os postes e muros do Rio vendendo o serviço de búzios e cartas. Além disso, as pessoas que irão distribuir as revistas - camelôs, estudantes, mendigos - vestirão a camisa com o slogan "Eu tô na merda". Provocações, não faltam. Que venha a primeira edição! Sobre os criadores da revista "M..." • O publicitário Silvio Lach, que possui uma coluna de humor na revista de Domingo do JB. Silvio foi sócio e diretor de criação de diversas agências do Rio de Janeiro e ganhou prêmios internacionais. Há cerca de dois anos, escreveu uma coluna de humor diário no Caderno B, do Jornal do Brasil. Também passou pelo Pasquim 21, onde escreveu uma coluna de humor. • Fernando de Castro é jornalista, também com passagem pelo Pasquim 21 e pelo Jornal do Brasil, onde foi colunista do Caderno B. Atualmente edita o jornal O Nacional, de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, fundado pelo célebre Tarso de Castro. • O jornalista Ulisses Mattos também tem passagem pelo Jornal do Brasil, onde foi colunista e editor da Programa e do Caderno B, e colunista do site de humor politicamente incorreto Cocadaboa.com.
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