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Economia e Negócios
17/01/2007 - 15h44
Lucrando em proteger a Mata Atlântica
Ricardo Marques - ASN
 
Produtores de mel lucram e protegem a Mata Atlântica. Apicultores do Vale do Ribeira mostram o que se pode conseguir por meio do associativismo e das parcerias

O Vale do Ribeira é um exemplo típico dos contrastes brasileiros: rico em beleza natural, diversidade cultural e potencial de expansão, mas pobre em indicadores sociais, desenvolvimento econômico e oportunidades de emprego. O diferencial mais significativo da região, que ocupa o sudeste do Estado de São Paulo e o leste do Paraná, é a reserva de Mata Atlântica, constituída por 17 municípios e uma das seis áreas brasileiras identificadas como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco.

Localiza-se no Vale cerca de 21% da Mata Atlântica remanescente em todo o País, a maioria protegida por parques e reservas, o que limita a pecuária e a exploração agrícola e industrial em grande escala e exige soluções criativas na busca de alternativas para a população.

Esta é a questão: como conciliar a preservação da natureza com a exploração de uma área com características tão especiais? Uma das respostas está sendo encontrada por um grupo de apicultores do Baixo Vale do Ribeira, que compreende os municípios paulistas de Registro, Juquiá, Pariqüera-Açu, Jacupiranga, Cajati, São Lourenço, Juquitiba, Itariri, Pedro de Toledo, Miracatu, Tapiraí, Sete Barras, Iguape, Ilha Comprida, Cananéia, Eldorado e Barra do Turvo. Reunidos na Associação dos Apicultores do Vale do Ribeira (Apivale), eles provam que é possível tornar-se economicamente sustentável recorrendo ao que a região tem de melhor, em perfeita harmonia.

Para isso, contudo, foi preciso que descobrissem os benefícios do associativismo, das parcerias e do trabalho em grupo. Até quatro anos atrás, a maioria dos poucos apicultores da região mantinha colméias para consumo próprio, quase como um hobby. Hoje, em tão pouco tempo, a situação mudou da água para o vinho - ou para o mel. Criada em junho de 2002, a Apivale formou-se em Juquiá, em torno de um grupo de apenas sete apicultores, que em 2005 já crescera para 84 e hoje compõe-se de 298 associados - 42 vezes o número inicial.

Esse extraordinário efeito multiplicador se repete na produção. Edemir Nardino, gaúcho de Soledade, 56 anos, extraiu 500 quilos de mel em 2003 e pretende produzir 5 toneladas neste ano - 1.000% de crescimento. "Hoje eu viveria só do mel", ele afirma, ao lado de sua mulher Antônia. Os dois cuidam sozinhos das 104 caixas de abelhas que se espalham pelo sítio de 174 hectares onde vivem, no município de Juquiá, e creditam o crescimento da produção às atividades da Apivale.

"Depois que nos filiamos à associação, começamos a participar de cursos, aprendemos muita coisa e passamos a tratar profissionalmente a apicultura", conta Nardino, enquanto mostra orgulhosamente os vidros com os rótulos amarelos "Mel do Vale", devidamente numerados e com a identificação do apicultor, a data de embalagem, o peso e a validade.

Colméia de parceiros

O rótulo, apesar de sua simplicidade, é uma das grandes conquistas da Apivale, por meio de uma rica rede de parcerias que envolve as prefeituras dos municípios, Casas de Agricultura, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar, entidade mantida pelo agronegócio), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (Consad) e Sebrae em São Paulo.

"Nosso grande objetivo era a certificação de mel de qualidade e o registro do produto nos órgãos oficiais, o que nos dá credibilidade e abre as portas do mercado", afirma Maria Luiza França Alvarenga, presidente da Apivale desde junho deste ano, uma das principais responsáveis pelo atual estágio da entidade. Ela abandonou há três anos o cargo de gerente financeira da consultoria Trevisan, na capital paulista, para cuidar de uma propriedade da família em Juquiá. Logo se interessou pela apicultura e assumiu a secretaria da Apivale. Formada em Administração e pós-graduada em análise de sistemas, utilizou sua experiência para organizar a entidade, e uma de suas primeiras iniciativas foi a busca de parcerias fortes.

Maria Luiza diz que 2007 será o ano da redenção dos apicultores do Ribeira. Não dá para duvidar, principalmente quando se considera a expansão da Apivale e o número de projetos em andamento. Entre as metas, está prevista a inauguração em Juquiá de um entreposto ’sifado’, ou seja, com a devida aprovação do Serviço de Inspeção Federal (SIF), condição básica para a comercialização de produtos alimentícios.

Com o SIF, os apicultores poderão até mesmo exportar o mel, e o que não falta é mercado para um item de qualidade tão alta. Também estão planejadas a criação da Escola Técnica de Apicultura, em Iguape; a instalação de Casas do Mel em vários municípios da região, para a venda dos produtos; a participação crescente em feiras, seminários e outros eventos e a realização de novos cursos de capacitação.

Esses cursos, segundo Maria Luiza, têm especial importância, na medida em que orientam o apicultor em todos os sentidos, da manipulação das abelhas ao planejamento e à organização do negócio. Na primeira quinzena de novembro, a Apivale promoveu o primeiro curso de formação de novos apicultores, que durou três dias e teve a participação de 30 pessoas. "Nesse grupo, quase todos se tornarão apicultores, o que significa que em pouco tempo se associarão à Apivale e estarão contribuindo para o desenvolvimento da atividade na região. É assim que as coisas acontecem por aqui."

O curso se realizou em Cajati, no apiário de Helielton Moreira de Oliveira, associado da Apivale, que cuida de abelhas há dois anos. Ele começou com apenas cinco caixas, hoje tem 41 e pretende ampliar cada vez mais o negócio, para aplicar os conhecimentos que vem acumulando. As aulas foram dadas por Lembito Kiwi, um filho de estoniano que ’descobriu’ o Vale do Ribeira e, sem querer, está se transformando em instrutor de apicultura. Sócio-fundador da Apivale (ostenta a inscrição número 3), Kiwi mantém 30 caixas de abelhas e afirma: "Ainda quero crescer junto com esse pessoal".

Novos apicultores

Esse otimismo se transmite aos futuros apicultores no último dia do curso, todos ainda aprendendo a manipular os itens que compõem o kit que receberam da Apivale: traje completo de proteção, ainda imaculadamente branco, acessórios como vassouras especiais e fumigadores e, como matéria-prima, um ninho de abelhas que passa a ser responsabilidade de cada um deles.

Para o Escritório Regional (ER) do Sebrae estadual em Registro, cada nova turma que se organiza representa a ampliação do trabalho de apoio à Apivale, como explica o analista Roberto Nunes Pupo, gestor da área de agronegócio: "Entramos há três anos na cadeia produtiva do mel, como parte do Sistema Agroindustrial Integrado (SAI), com o objetivo de oferecer cursos básicos de associativismo e organizar missões empresariais para participação em feiras e seminários".

Segundo Pupo, uma das propostas do Sebrae São Paulo era apoiar o trabalho de certificação do mel produzido no Vale, para que a atividade se tornasse uma alternativa economicamente viável e compatível com a vocação natural da região, ao lado da agricultura orgânica. Para isso, o Sebrae procurou adaptar a produção local aos parâmetros da Organização Internacional Agropecuária (OIA), entidade certificadora mundialmente reconhecida. Foram dois anos de ajustes e capacitação, até que se obteve a certificação ’mel de qualidade’ que hoje aparece nos rótulos dos produtos.

Agora, o próximo objetivo é a criação de canais de comercialização, como explica Roberto Pupo: "Por enquanto, a venda do mel ainda é limitada, mas com o crescente aumento da produção será necessário criar alternativas. Por isso, continuaremos apoiando a Apivale na participação em feiras, convenções, encontros e missões empresariais, além dos programas de capacitação oferecidos pela entidade".

O Sebrae em São Paulo também introduziu na Apivale o projeto Geor (Gestão Estratégica Orientada para Resultados), que propõe, entre outras medidas, a intensificação dos sistemas de controle e a determinação de metas. No caso da cadeia do mel, uma das metas é o aumento de 40% nas vendas até 2009 - alvo já superado com folga em apenas um ano.


Nota do Editor: Escritório Regional Sebrae no Vale do Ribeira (SP) - (13) 3821-7111.

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