Bennett Foam fornecerá blocos para a confecção de pranchas de surf.
| Arquivo |  | | | Robson Jerônimo de Souza, o "Careca". |
|
Mesmo depois de sofrer um acidente que o deixou paraplégico, Robson Jerônimo de Souza, mais conhecido como "Careca", 36 anos, não desistiu de fazer o que mais gosta na vida. Surfista desde os 9 anos, logo após a tragédia pensou que nunca mais subiria em uma prancha, no entanto, com muita força de vontade, deu a volta por cima, voltou a pegar onda e quer incentivar outros portadores de necessidades especiais a praticar o esporte. O acidente aconteceu em 10 de outubro de 1998, quando retornava de uma session em uma praia de Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo. Numa curva, o carro em que estava colidiu de frente com um outro. Careca bateu a cabeça e teve uma fratura alta na cervical C6 e C7, provocando uma tetraplegia traumática. Ele conta que depois do trauma ficou mal, mas logo viu que não era daquela forma que deveria agir e foi atrás de recuperação. "Fiquei acabado praticamente uns cinco meses, depois comecei a fazer fisioterapia e reabilitação. Queria tirar aquela imagem ruim da minha cabeça e pensei que nunca mais fosse surfar", conta. Desafiando os seus limites, Careca há três anos voltou a pegar onda e hoje surfa deitado em um pranchão de 3 metros. "Voltei com muita cautela e comecei a ganhar equilíbrio. Hoje tenho uma prancha 11’4" polegadas e quando não tem ondas eu pratico remada. Eu sinalizo algum canto da praia pedindo para alguém colocar uma bóia. Vou remando, faço a volta na bóia e retorno feliz até a beira. Com isso, fico bem com a minha saúde e com meu corpo". Durante a semana, ele continua fazendo os trabalhos de reabilitação na AACD, Hospital das Clínicas, Sumaré Sports, em São Paulo. "Fazemos musculação, treino de remadas, condicionamento físico dentro da piscina", explica o treinamento na academia. No final de semana, a praia de Pitangueiras, no Guarujá é o destino do surfista. "Temos o apoio da Fluir Surf Van que nos leva para a praia. Quando tiver alguém disposto a ir, eu levarei até no meu carro", fala. "Já tem outras pessoas indo comigo, inclusive um portador de uma lesão T-1, que nada 1600 metros, faz travessias sem bater as pernas e surfa para os dois lados. Tem também o meu amigo André que começou a remar e o Rafael que está pegando altas ondas". Careca é o primeiro paraplégico a surfar deitado no mundo. Baseando no seu esforço, ele quer desenvolver um trabalho de âmbito internacional mostrando que os portadores de necessidades especiais podem praticar o surf. "Quero viajar no final do ano para o Hawaii e para outros países e mostrar para eles que existe um brasileiro que surfa deitado". Acreditando no projeto do Careca, a fábrica de blocos Bennett Foam decidiu investir nessa iniciativa. "A Bennett acabou de entrar nesse projeto e fornecerá os blocos para as pranchas. O Vicente e o Josil são pessoas extremamente sérias e profissionais, que tem um equipamento de primeira qualidade. Eles não pensaram duas vezes, abraçaram a causa e estamos tocando a bola pra frente". Agora com o apoio da Bennett, ele precisa de outros profissionais para dar andamento ao projeto. "Vou tentar um shaper que atenta as minhas necessidades e que faça uma parceria comigo. Depois que shapear, vou correr atrás de alguém para dar o glass". Careca quer juntar as pessoas que queiram praticar o surf adaptado e as remadas. "Quanto mais portadores, será melhor, e se tivermos umas 20, 30 ou 40 pessoas, a nossa intenção será fazer um clube de remadas". E as idéias não param por aí. O surfista pretende depois, se possível, fazer campeonatos de remadas com portadores de necessidades especiais. "Dependendo de quantos portadores aparecerem, nós vamos classificando pelas lesões e vamos classificando em etapas", idealiza. "Hoje o Brasil é muito carente se tratando de surf para portadores de deficiências. Eles acham uma loucura", desabafa. "Mas eu quero resgatar as pessoas que usam cadeira de rodas. Muitos eram triatletas, nadadores e outros até mesmo surfistas, que sofreram acidentes em águas rasas, automobilísticos ou com armas de fogo. Eles não sabem como desenvolver uma prancha para poder surfar e hoje eu estou fazendo isso". Assim como acontece em outros esportes, Careca vê no surf uma porta de entrada para a inclusão dessas pessoas novamente à sociedade. "Elas poderão buscar os seus patrocinadores e apoiadores, ganhando o seu dinheiro e comprar sua comida, os seus acessórios e até mesmo ajudar em casa", calcula Careca. O lugar para essas atividades já foi escolhido. A praia da Baleia, em São Sebastião, que aponta boas condições para a ocasião. "Essa praia tem ondas grandes e pequenas, além da areia dura que facilita para empurrar a cadeira de rodas. Depois é só colocar os portadores na água". "Quando sairmos do mar, ainda temos um gramado com árvores que podemos ficar bem confortáveis na sombra. Tem também a assistência dos salva-vidas e o acompanhado dos fisioterapeutas ocupacionais", planeja.
|