Foram-se as ruas descalças Onde os lampiões de antigamente Iluminavam a noite. Já não se vê nas varandas Os banquinhos Para a conversa fiada De fim de tarde. Nas praias desertas Não há mais redes penduradas Nem canoas Ao largo. É que, infelizmente, A profecia da poetisa Se cumpriu: "... dos pescadores que lançavam redes, só resta a lembrança em um quadro na parede..." As assombrações assombradas Com as luzes que fazem Da noite, dia, Mudaram-se. Os pardais que dormiam Na amendoeira em frente, Fugiram... do barulho Dos canos do progresso e Do homem... Estou aprendendo a dormir Sem o marulhar das ondas E acordar com o ronco Dos motores... É o progresso. E em nome dele Pago mais caro O peixe e a banana que fazem parte dos meus dias. Enfrento filas... Mas, graças a Deus, em meio a Tudo isso, O mar permanece! Ora azul, Ora cinza, ora verde Apesar de que com menos peixes... Não sou antiga, Mas sinto falta do pipocar Das canoas de madrugada, Das redes e do sabiá que anunciava A primavera.
Nota do Editor: Ana Maria Fernandes da Silva, nasceu em Igaratá (SP) e mora em Ubatuba desde 1959. Trabalha há mais de 25 anos como auxiliar de enfermagem, sempre escreveu e é participante ativa dos mais significativos grupos culturais da cidade.
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