Agora cortaram a amendoeira que era um marco histórico, para a expansão da nojenta Feira Hippie, que o prefeito chama hoje de Espaço de Convivência. Na minha opinião, foi transformada em espaço de conveniência. E as outras praias, certamente seguirão pelo mesmo trilho, até ao final dessa gestão. Nós do governo Matarazzo, deixamos a malha viária da cidade projetada e aprovada para 100 anos à frente, e ninguém era doutor. Apenas um topógrafo e dois desenhistas atuando também como auxiliares de campo, medindo, abrindo picadas, de foice e penado em punho. O Sr. Benedito Santos (Dito Futrica) era o chefe do Serviço de Obras, às vezes mandava-nos alguns braçais, mas já viciados na famosa morcegagem, não ficavam mais que um dia. O serviço era corrido e nós não tínhamos horário para almoço. Às vezes era direto, das 7 horas da manhã até escurecer, sem remuneração de horas extras. Éramos jovens e imbuídos pela intenção do prefeito Matarazzo, de incluir Ubatuba na parada obrigatória do roteiro turístico nacional e internacional. Dizia Matarazzo - "Ubatuba tem tudo... É só administrar!" Essa era a frase predileta do prefeito, coisa que os sucessores até hoje, não souberam fazer e, ainda destruíram tudo o que estava feito. E continuam destruindo! O levantamento da avenida Manoel da Nóbrega teve início no rio Indaiá, e quando chegamos no cruzamento com a avenida Dr. Félix Guizard já estava escurecendo, esta era a última estação. Quando terminei de armar o aparelho, nivelar e bater o piquete, a noite fechou. Tínhamos que dar uma visada a ré e outra a vante na avenida Dr. Félix Guizard, exatamente embaixo da figueira, mais que centenária, aonde morava o caiçara Sidônio. A uns 50 metros antes da ponte, para fazer a leitura da última estação, o jeito foi colocar uma vela acesa em cima do piquete, para fechar o levantamento. As pessoas que ali passavam naquele momento, cada um dizia um gracejo, sendo o mais freqüente: “Vão gostar de trabalhar assim... no raio que os parta.” A figueira, ainda está lá por testemunha, espero que não tenha o mesmo destino da “Amendoeira do Cruzeiro”. E, na ânsia incontida de participar e ver implantado esse importantíssimo projeto de infra-estrutura viária, que é a espinha dorsal de qualquer cidade, tornou-se para nós, uma obsessão. Com as mãos trêmulas do serviço pesado do campo, ficávamos debruçados na prancheta de desenho às vezes até às 22 horas, juntamente com nosso chefe o topógrafo Sr. Roberto, para adiantar a tarefa para o dia seguinte. Porque tudo era para ontem, e ainda era de responsabilidade dos dois desenhistas a demarcação de lotes, dar alinhamentos para a construção de novas casas, vistoria para habite-se, sem remuneração extra. O teodolito estava instalado ao lado do bar do João Honório, na bifurcação das duas avenidas, e quando enceramos, Roberto franqueou uma cervejada para todos os que ali estavam, o tira-gosto: sardinhas em conservas com farinha de mandioca. Eu não participei por muito tempo da cervejada, porque estava de namoradinha nova, era colega de serviço, coisinha fofa. Juntei todas aquelas tralhas: teodolito, balizas, trena, saco de ferramenta, piquetes, e joguei tudo nas costas e fui embora debaixo de uma sonora vaia, nem olhei para trás. Sumi na poeira! No dia seguinte me disse o colega BIP, que a comemoração foi até às 11 horas da noite, o topógrafo perdeu até o rumo. E agora como nunca, com essas obras que jamais deveriam ser implantadas: - Construção de uma única pista na avenida Iperoig (CRIME) - A implantação do Projeto Praia Grande, nas condições em que já foram apresentadas - A idéia do prolongamento até a avenida Iperoig, da maior imbecilidade já construída na artéria principal da malha viária de Ubatuba (CALÇADÃO). Enquanto isso, os arquitetos (Amigos do Centro Velho) da Capital Bandeirante, anunciaram que vão dar um CTRL + Z, nos calçadões da avenida São João, rua Conselheiro Crispiniano, rua 23 de Maio, rua Sete de Abril e adjacências. Que, após o fechamento dessas vias públicas, os grandes magazines, joalherias, livrarias, cafés e outras, foram substituídos pelos camelôs. Demorou cair à ficha! Antes tarde do que nunca! E Ubatuba? Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série Construindo o passado II.
Nota do Editor: Francisco Velloso Neto, é nativo de Ubatuba. E, seus ancestrais datam desde a fundação da cidade. Publicado no Almanak da Provícia de São Paulo para o ano de 1873. Envie e-mail para thecaliforniakid61@hotmail.com.
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