São Paulo pode sair na frente no desenvolvimento da vacina contra a dengue
| Tatiana Villa |  | | | O Butantan é responsável pela produção de mais de 80% do total de soros e vacinas consumidas no Brasil. |
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O Brasil pode ser o primeiro país a desenvolver uma vacina contra a dengue. A previsão é do presidente do Instituto Butantan, Isaias Raw, que aguarda autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para importar os vírus geneticamente modificados e, a partir daí, começar a produção destinada aos testes da vacina. As cepas virão do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos que escolheu o Butantan como o único fabricante para ser parceiro no projeto. "Eles não têm incidência de dengue, mas estão preocupados com os viajantes e os soldados americanos espalhados pelo mundo", explica Raw. Para Raw, a vacina é, sem dúvida, o melhor caminho para a contenção da dengue. "Tanto no Brasil, como na África não é fácil acabar com os mosquitos. Além do que ao acabarmos com os mosquitos silvestres, mexemos na cadeia alimentar. A solução está na vacina", afirma. O instituto americano vem trabalhando há dez anos no desenvolvimento dessas cepas, o que pode permitir ao Butantan o pioneirismo na produção das vacinas. Por meio de engenharia genética o instituto modificou o vírus, chegando a um tipo que não causa a doença, mas oferece resposta de defesa imunológica. A partir daí foram desenvolvidas quatro cepas, testadas em macacos. As quatro formas isoladamente já foram testadas em seres humanos. A parceria com o Butantan se dá para que haja a evolução dos testes em uma área endêmica. "O Butantan tem condição de desenvolver de, um lado, a produção em larga escala e, de outro, o estudo clínico", explica Raw. "Estamos reunindo uma equipe de epidemiologistas e, com a Secretaria da Saúde, vamos desenvolver um plano de ação. Os primeiros testes serão feitos em grupos pequenos, depois serão escolhidas as regiões para a ampliação dos trabalhos", acrescenta Raw. Etapas do processo Segundo o diretor do Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan, Paulo Lee Ho, a partir das cepas vacinais, será induzido o crescimento do vírus atenuado. Ele explica ainda que existem protocolos a serem seguidos quando se desenvolve um projeto piloto como esse. "Precisamos garantir que o produto que está sendo desenvolvido seja consistente e que se tenha rastreabilidade de cada etapa do processo". O diretor informou que outra etapa será a adequação física para a realização do trabalho. "Apesar de serem vírus atenuados, exigem condições especiais". Em uma escala adotada mundialmente o vírus da dengue é classificado como nível 2 de segurança. "Um risco médio, mas que demanda medidas adequadas para o desenvolvimento dos estudos e dos testes". Liberada a importação das cepas, vencida a etapa de produção em escala piloto, serão realizados os testes da vacina em seres humanos. Em linhas gerais, o primeiro passo desse processo será checar se a vacina tem algum efeito tóxico. Não apresentando efeitos colaterais ou tóxicos graves, a próxima avaliação será de eficácia, se o organismo desenvolve a produção de anticorpos que neutralizem o vírus. Na etapa final, parte-se para a vacinação com um número maior de pessoas em áreas endêmicas (que têm a doença). É importante que as imunizações sejam feitas para os quatro tipos da doença porque quem desenvolve um e depois tiver contato com um segundo tipo, pode ser vítima da dengue hemorrágica, que pode levar à morte. "Uma das dificuldades de criação de uma vacina contra a dengue é justamente a necessidade de proteger contra os quatro tipos. Uma preocupação para o Brasil, a longo prazo, é o tipo 4. Ele é mais freqüente na Ásia, não existe aqui, portanto ninguém está imunizado. Mas também temos a preocupação com a dengue hemorrágica", enfatizou. Enquanto a vacina não vem Como se vê, a produção em escala da vacina contra a dengue segue um processo que demandará alguns anos. Enquanto isso, o único remédio para enfrentar a doença consiste em convencer todas as famílias a cuidar de suas residências – e todas as empresas a se mobilizar no mesmo caminho. Mais de 80% dos criadouros do mosquito são encontrados em residências. Esse dado demonstra o quanto é importante os moradores não baixarem a guarda e continuar evitando o acúmulo de água que podem se tornar criadouros do mosquito, veículo de transmissão da doença.
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