Os escândalos na política nacional amplificados pela insistência da grande imprensa levam os cidadãos a encarar a política como algo sujo, bilionário e distante. Quase fictício ou novelesco. Um grande e poderoso balcão de negócios envolvendo favores, dinheiro, poder e notícia. Parece que os grandes escândalos só acontecem lá, longe dos municípios pequenos como o nosso. Quando ocorrem denúncias de corrupção, desvio de verba, quebra de decoro parlamentar, ou nepotismo em pequenos municípios, nem parece escândalo. Não há dutos de dinheiro, cenas excitadas na TV, com homens em viaturas pretas algemando e lendo os direitos dos homens de colarinho branco em rede nacional. Nem mesmo os jornais dessas cidades dão o devido destaque a esses fatos. Quase sempre as obras públicas e os políticos do poder executivo ganham elogios nas capas desses jornais. As notícias polêmicas são adocicadas e misturadas a textos curtos nas páginas internas. Além disso, raramente vamos a uma Sessão Ordinária da Câmara, a fim de observar como os projetos são lidos, discutidos e votados. Ou para conversar com outros freqüentadores daquela casa, fazer uma avaliação conjunta do comportamento de cada vereador e dos projetos apresentados. O resultado é que, sem uma noção real do que acontece nos bastidores da política, o cidadão eleitor, jovem ou experiente, nunca sabe se as relações entre o legislativo (vereadores) e o executivo (prefeito) são sadias ou viciadas. Se os projetos de um e de outro são do interesse coletivo, ou resultados de acordos obscuros para favorecer pequenos grupos. Nem sabe se os vereadores (base aliada) que apóiam o prefeito acreditam realmente que ele seja honesto, trabalhador e capaz, ou se gostam das comissões, da vida confortável e da visibilidade destacada que gozam aqueles que levitam nas esferas do poder central. Ou, ainda, se os vereadores da oposição estão nessa porque são obrigados a ser do contra, não vão com a cara do prefeito, ou acham sua administração realmente nociva e desastrosa para o município. A desinformação e a falta de participação não permitem que o cidadão saiba sequer se o vereador em quem ele votou é da base aliada ou da oposição e, muito menos, de que lado gostaria que ele estivesse. Sem inverter esse quadro o voto será sempre um tiro no escuro, capturado por estranhos que governam as cidades, os estados, o país. É preciso lembrar que política é a arte da negociação e não das negociatas. E que a maioria dos políticos que hoje estão em Brasília iniciou carreira em pequenos municípios. E, lamentavelmente, a cada dia constatamos que a principal especialidade deles é lidar com cofres. Cofres Públicos.
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