Reforma ortográfica não é novidade. Pelo menos duas delas, a de 1943 e a de 1971, obrigaram brasileiros de gerações distintas a reaprender o Português. Em 1990 não só o Brasil achou que era hora de mexer mais uma vez com a língua de Camões (aliás, vale imaginar o que ele acharia disso tudo). Naquele ano, foi assinado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que nunca saiu do papel. Precisava ser ratificado pelos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa - nada feito - e então a história travou. Ainda assim, Portugal, Brasil e Cabo Verde defenderam a idéia de que apenas as assinaturas de três membros da Comunidade, entre os oito, pudessem valer para começar a unificação. Neste meio tempo, contudo, Portugal acabou dando para trás, e a questão foi deixada para ’um dia, quem sabe...’. Só no ano passado o recurso dos três tomou nova força, e São Tomé e Príncipe substituiu Portugal no time dos insistentes. Estava feito. O plano é que, até o final do ano, o Acordo Ortográfico esteja valendo, e Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste tenham uma maneira única de escrever - e um dicionário, apenas. Interessante. Segue um panorama do que irá mudar: - O trema deixa de existir. Convenhamos: nenhuma língua merece conviver com este acento que paira sobre nossos ’u’s. - As letras "k", "w" e "y" serão incorporadas. Já não era sem tempo. - Para os portugueses, somem o ’p’ e o ’h’ em algumas palavras. Saímos décadas na frente: para eles, chega de ’húmido’ ou ’óptimo’. Sabemos que é bem melhor assim. - Adeus ao acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo, ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. Mesmo? ’Veem’, ’creem’, ’deem’ substituem ’vêem’, ’crêem’, ’dêem’ e por aí vai. - Fim do acento circunflexo em palavras terminadas em hiato "oo". Estranho, mas fácil de se acostumar: será ’voo’ e não mais ’vôo’. Há outras mudanças, mas estas são as mais impactantes. Curiosa, mesmo, foi a declaração de uma estudante ao jornal O Globo sobre o fim da trema e do acento em várias palavras, tomando como base a internet (sempre ela): - Não vai fazer grande diferença, porque a gente já não usa mesmo. Ops, não reproduza esta declaração em lugar algum! Aliás, estou pensando em deletar este trecho do texto. E se a maioria dos jovens dos países de língua portuguesa acha a mesma coisa, e a reforma trava mais uma vez? E você, acha que o bom e velho português merece mais um ’lifting’, desta vez global? E a internet, teria culpa no cartório, ou é assim mesmo que a língua evolui?
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