Os clientes simplesmente desapareceram. Sumiram nas primeiras notícias da epidemia de dengue. Ontem, depois de longo jejum de ocupação, finalmente na recepção, um casal, de meia idade. Europeus! Educadíssimos, finos. Eles já haviam se hospedado aqui, há muitos anos atrás, quando da primeira vez no Brasil. Como sempre, ficaram encantados com a nossa natureza. Também contentes e, ao mesmo tempo espantados por serem os únicos hóspedes. Um dia lindo de sol, temperatura amena, praia deserta completou o cenário que esperavam encontrar e, usufruir. No cantinho da praia, deserta, em frente ao Refúgio, ele sob o guarda sol lia a Forbes e admirava a paisagem. Ela, deitada na espreguiçadeira tomava sol, topless. O relógio deveria estar marcando não mais que 11h00 (onze da manhã). Eis que de repente surge nesta maravilhosa paisagem, vindo pela praia (e não pela rua de acesso) uma viatura policial que, seguindo o padrão de apresentação não dispensou o uso do giroflex. O que estaria acontecendo em um dia tão tranqüilo? Alguém tinha se perdido na mata? Se afogado na costeira? Alguma ocorrência grave? Teria o caseiro do condomínio vizinho, atirado (de novo) com a sua "pica-pau" em outro manso casal de jacu? Não! A viatura estacionou, na praia, em frente ao hotel e, dirigiu-se ao casal e, utilizando-se (é claro) da linguagem dos sinais, gesticularam para que a senhora colocasse a parte superior do biquíni. A viatura, segundo o policial (sargento) veio atender a uma denúncia do Sr. Derlúzio, representante dos interesses da empresa de segurança, que "toma conta" de casa de turistas da praia. Na verdade, ele é o responsável pelos "guardinhas" daqui da Fortaleza. Para justificar a incrível rapidez do atendimento ao chamado, O Sr. Derlúzio deve ter argumentado estar sofrendo contínuo atentado ao pudor. Que estava praticamente sendo violentado pela exposição dos peitos daquela senhora. No relatório deve ter constado que o denunciante, o Sr. Derlúzio, foi socorrido a tempo de não sofrer um infarto do miocárdio, ou até mesmo um dano moral irreparável!!! Pobre senhor Derluzio! Imagino seu intenso e sufocante sofrimento só de pensar (já que desapareceu quando a viatura chegou) naqueles peitões! Fui falar com os policias, que cheios de suas razões, contestaram meus argumentos conciliatórios, dizendo estarem atendendo a uma denúncia e, cumprindo (rigorosamente) a lei. Afirmaram serem de rotina aqueles procedimentos de ação, de apresentação, de intimidação, de constrangimento, de uso e, aplicação do excesso de autoridade; e, ainda, que eu tinha sorte, porque o "procedimento" certo seria levar o meu casal de hóspedes para a delegacia! Imaginem e, concluam! Os policiais, não se conformavam, que eu estava inconformado! As verbas destinadas pelos apertados orçamentos dos serviços públicos são escassos, principalmente os destinados a (in)segurança da população. Não deveriam então, o uso destes recursos seguirem algum critério (inteligente) de utilização? Não há critérios técnicos, no 190, para avaliar: ..."tem uma senhora de peitos de fora..." e determinar o deslocamento (custoso) de viaturas? O Senhor Prefeito quer trazer turistas (para nossa salvação) aos milhares! Virão em navios! Talvez queira ele, resgatar os bons tempos de Ubatuba! Pensa que é fácil! O que será feito para a recepção das centenas de senhoras, de peitões turbinados, habituadas ao topless? Serão impedidas de desembarcar? Será desencadeada a Operação Tapa Peitos, baseada nas denúncias do pudico Sr. Derlúzio, "o homem forte do 190"? Serão as senhoras, de peitos para fora, imediata e moralmente vestidas pelo heróico batalhão de choque? Quem abotoará os faichecleres? Pobre Ubatuba de tantos Derlúzios. Tantos já são os nossos descaminhos e, outros tantos, nossos desencantos. Mas, com certeza, sobreviveremos a pior e, a muito mais! Hoje, lembrei-me daquela do Chico Buarque: - Apesar de "vocês", amanhã há de ser... outro dia!