Rebeldes com justa causa
Que força misteriosa é capaz de levar crianças inteligentes e curiosas a não empregar no ambiente escolar os talentos e meios de que dispõem? "Por trás e na raiz do fracasso escolar e de várias dificuldades de aprendizado pode estar o medo, entendido como uma resistência inconsciente de a criança colocar em questão seu universo mental." É o que nos mostra o professor e psicólogo Serge Bomaire, há mais de trinta anos trabalhando com crianças e adolescentes que têm em comum a recusa à aprendizagem. "’O verbo é um imbecil por obedecer ao sujeito’, diz Juliano, dez anos, querendo mostrar com isso que não se deve contar com ele para aprender as regras de conjugação e, menos ainda, para submeter-se a mim." Julgando-se bom professor primário e capaz de enfrentar qualquer desafio, Serge Boimare pediu transferência para uma classe especial de crianças que tinham em comum o fato de não suportarem a estrutura escolar, com suas regras, leis e pessoas. Apesar da pouca idade, a maioria já havia sido expulsa de várias escolas de bairro em razão de violência e indisciplina marcantes. A autoconfiança durou pouco. Em quinze dias praticamente não tinha mais alunos. Cabia a Bomaire distrair e manter ocupados os poucos que ainda restavam em sala - ou eles engrossariam as fileiras dos que zombavam dele sob as janelas. Um dia, no auge do desespero, encontrou na estante um livro de contos de Grimm e decidiu lê-lo para os três ou quatro presentes. Como por encanto, os que estavam fora voltaram, um atrás do outro, para também ouvir as histórias. Ler histórias tornou-se rotina... Nem assim, Serge sentiu-se orgulhoso - até então, leitura de histórias era "recompensa" para os alunos depois de um dia inteiro de trabalho e dedicação. Se substituía a leitura por algum livro de matemática ou gramática, iam embora. Serge tentou recorrer a livros com textos menos fortes, mas os alunos os desprezavam. Aquela classe jogou por terra todos seus parâmetros de pedagogo. Cerca de seis semanas depois, Serge começou a perceber sinais encorajadores de mudança. A partir dessa experiência, o autor revela no livro “A criança e o medo de aprender”, lançamento de Paulinas Editora, como a leitura casual dos contos de Grimm prendia o interesse dos alunos, conduzindo-os a um mundo de sonhos. Assim, fornecia para eles mesmos elementos que lhes permitiam repensar o próprio universo mental e desejar reformulá-lo, dispondo-se a assimilar novos elementos, a abrir-se ao aprendizado. A partir desse encontro com o fracasso escolar, Serge formula sua tese sobre a estreita relação entre a mediação cultural e as dificuldades de aprendizado. Analisa uma dezena de casos em que foram superadas as mais diversas dificuldades ao se apresentar as inquietações mais elementares dos alunos, pelo viés da cultura, com a proposição indireta de imagens para pensar e tendo, em geral, o professor como ponto de referência, ajudando o educando a se desprender da curiosidade circunscrita ao emocional para, aos poucos, alcançar uma organização psíquica compatível com a aprendizagem. Segundo o autor, dominar os medos e dar-lhes uma forma identificável pelo pensamento, a fim de que já não provoquem a ruptura do processo intelectual, é condição indispensável para reconciliar essas crianças com o saber escolar. Serge propõe como recurso a utilização de mediações culturais que possam metaforizar esses medos, recorrendo assim aos romances de Júlio Verne, à mitologia grega e a Bíblia. Além de impressionar pelo rigor das análises e pela riqueza de dados, a obra coloca o leitor no centro das mais variadas preocupações pedagógicas e propõe uma espécie de linha de pensamento capaz de orientá-lo e estimulá-lo a traçar seu caminho diante dos problemas, sempre únicos, com que se depara. Título: A criança e o medo de aprender Autor: Serge Boimare Editora: Paulinas Público-alvo: orientadores educacionais, professores de educação infantil, psicólogos, catequistas Coleção: Pedagogia e Educação Formato: 13,0 x 20,0 Páginas: 264 Preço: R$ 24,70 O autor Serge Boimare é diretor pedagógico do Centro Claude Bernard, em Paris. Professor especializado, reeducador e psicólogo clínico, adota há mais de trinta anos um procedimento psicopedagógico com crianças e adolescentes que têm em comum a forte recusa aos métodos tradicionais de aprendizagem.
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