Um dos filmes mais famosos do cineasta francês Jacques Tati é Mon Oncle (Meu Tio), realizado em 1958. Nesse filme genial, Ms. Hulot (personagem emblemático de Tati), faz uma crítica divertida da burguesia francesa com seus símbolos de status e a modernidade que, já nos anos 50, invadia pouco a pouco as tradições do país. Uma das cenas mais hilárias e caricaturais desse comportamento cheio de etiquetas e formalidades sociais é a da fonte do jardim: Ms. Arpel, o cunhado novo rico de Ms. Hulot construiu uma casa futurista, cheia de traquitanas tecnológicas, não propriamente para o conforto da família, mas para mostrar a seus parentes e amigos sua recente ascensão social, onde um chafariz, em forma de peixe, deveria ser acionado de acordo com a importância da visita que chegasse. Deste modo, a mulher de Ms. Arpel, numa outra cena, leva uma reprimenda quando ligou a fonte sem necessidade porque era ele mesmo, seu marido, que estava chegando. Não precisava, afinal ele era uma pessoa “de casa”. Aqui em Ubatuba essa é uma prática constantemente imitada. Mês passado observei o quanto os jardins da avenida Guarani, no trecho em que ela se alarga, em frente ao aeroporto, estavam mal cuidados, com o mato nas alturas, até escondendo as plantas ornamentais e pensei no porquê dessa falta de manutenção já que essa avenida, paralela à praia, é uma das mais utilizadas por todos, moradores ou não. Descobri que nós, moradores, somos “de casa”. Não há necessidade de manter o paisagismo “só” para nós. Afinal, não é temporada nem nada! Sim, porque hoje, passando por ali novamente, notei que tudo está diferente: os jardins bem tratados, as plantas de novo aparecendo, tudo muito bem cuidado. Que bom! Pelo menos os convidados importantes, os participantes do 51º Jogos Regionais do Interior com início em 3 de julho, vão ter a oportunidade de ver a fonte do Ms. Arpel jorrando água, vão ter uma boa impressão e até achar que a cidade está sempre assim. Sorry periferia, ver o chafariz funcionando não é para qualquer um.
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