Ivan Storti      Ricardinho Toledo comemorou sua vitória na master mostrando a frase em sua prancha: Sou seguidor de Jesus Cristo.

A categoria master roubou a cena na 2ª etapa do Okdok Paulista de Surf 2004, encerrada neste domingo (dia 1º) na praia do Tombo, em Guarujá. Numa final reunindo quatro grandes nomes da modalidade, os veteranos deram um show de habilidade nas ondas de até 1,5 metro. Depois de ter vencido a open, na etapa de abertura, Ricardinho Toledo, de Ubatuba, faturou na master, numa disputa acirrada contra três lendas, o santista Almir Salazar e os irmãos do "Tombo", Neno e Paulo Matos.

A competição, que reuniu 134 atletas, também teve como vencedores, em atuações impecáveis, mais dois ubatubenses, João Santana, na open, e a revelação Luana Coutinho, na feminina, e o fenômeno do longboard, os pranchões, Danilo "Mulinha" Rodrigo. Na disputa por cidades, novamente os dois grandes pólos do surf paulista, Ubatuba e Guarujá, brigaram até a última bateria e, apesar de ter vencido apenas uma categoria, contra três da arqui-rival, Guarujá saiu vitoriosa, por uma diferença mínima de 0,4% - 4.176 a 4.159 pontos.

A surpresa ficou por conta de Santos, cidade onde o surf brasileiro nasceu, que depois de muitos anos voltou a figurar entre as principais, terminando na 3ª colocação. "Foi uma etapa memorável, com grandes disputas, atletas de alto nível, sobretudo na master, que está trazendo de volta ao cenário nomes que ajudaram a construir a história do surf brasileiro. O Paulista, que é um dos circuitos mais tradicionais do País, ficou três anos parado, mas voltou com tudo", comemorou o diretor técnico do evento, Marcos Bukão.

A disputa que causou mais expectativa foi a master, para surfistas com mais de 35 anos de idade. A maioria dos participantes atuou como profissional, sabendo competir muito bem. Já as semifinais empolgaram o público. Almir Salazar teve uma briga boa com Amaro Matos, outro irmão do Clã Matos na competição, com a vaga para a final sendo definida nos instantes finais.

Na outra semi, novamente um show de manobras, entre Ricardinho e o guarujaense Kias de Souza, que foi o 1º campeão do Circuito Paulista, em 1986. Após 18 anos, o surfista de 37 anos resolveu retornar. "Não tenho mais tempo para treinar. Trabalho a semana inteira e só surfo aos domingos, mas vim aqui para me divertir", disse Kias. Depois, na finalíssima, Ricardinho, que está estreando na categoria nesta temporada, não deixou dúvidas quanto à vitória.

Sabendo escolher bem as ondas, ele conseguiu ligar uma manobra a outra, sem perder a velocidade, num mar com ondas difíceis, arrancando um 7,5 pontos, e não foi ameaçado pelos rivais. Bicampeão brasileiro profissional em 1991 e 95, ele estava afastado das competições desde 2000 e ficou o ano passado praticamente sem surfar, em função de uma hérnia de disco.

"Foi uma final muito difícil, porque são três grandes nomes, que respeito muito. Competir ao lado deles é uma honra, vencer então. Os três têm história e muito o que contar. Merecem todo o respeito", comemorou Ricardinho, que está com 36 anos, referindo-se aos adversários.

"Estou voltando aos poucos. Na verdade, a recuperação é delicada e não posso forçar muito. Só tenho de agradecer a Deus por essa benção", disse o vencedor, que festejou apontando para a frase na sua prancha: ’Sou seguidor de Jesus Cristo’. Vale destacar que ele foi o único atleta a participar de três categorias e na open ele segue com chances de faturar o título, em 2º lugar no ranking.

Com o resultado, Ricardinho assumiu a 2ª colocação na classificação master, com 1.531 pontos, atrás de Almir (único tetracampeão paulista profissional), que soma 1.900, com o 2º lugar nesta etapa. Neno Matos, bicampeão brasileiro e paulista master, terminou a disputa na 3ª posição, seguido do irmão, Paulinho, o 1º campeão brasileiro profissional da Abrasp, em 87.

MULINHA GARANTIU A MELHOR NOTA DO EVENTO - Outra final que chamou a atenção foi a longboard, na disputa onda a onda entre Danilo Rodrigo e Adriano "Alemão" Melo, ambos de Guarujá. O vencedor saiu na frente, com um 7,5, Alemão virou o resultado com uma onda 8,40 e Mulinha retomou a ponta com a melhor onda do evento, tirando 9,25, numa direita com duas batidas de front side (frente para onda), na parte crítica da onda, e outra na junção, deixando a prancha reta, o que é muito difícil no long.

"Peguei essa prancha sábado e nem tive tempo para treinar, mas ela está muito boa. Só não tinha me adaptado com a quilha, mas troquei com o Alemão e ficou perfeita, no pé. Foi uma final de altíssimo nível e bem melhor porque foi em casa", ressaltou Mulinha, de 19 anos, que este ano terminou o Mundial da categoria como top 16. Na classificação geral, Adriano Alemão segue líder, com o 2º lugar, somando 1.900 pontos.

Mulinha está em 3º, atrás de Carlos Bahia, de São Sebastião. Ainda merece destaque Marcelinho do Tombo, outro talento da cidade, que mesmo competindo com uma prancha emprestada ficou em 3º lugar. "Minha prancha ficou trancada no apartamento de um amigo meu e tive de me virar", contou o surfista. A 4ª colocação ficou com Kleber Silvano de Itanhaém, outro nome que vem crescendo na categoria.

LUANA MOSTROU UM SURF FORTE - Na final feminina, Luana Coutinho, de apenas 15 anos, mostrou um surf bem forte, sendo bem superior. Com uma batida forte, numa esquerda, ela garantiu nota 8 e abriu boa vantagem sobre a 2ª colocada, a vicentina Rose Santana. "Estou bastante feliz, porque estou sem patrocínio e esse resultado pode me ajudar muito", disse a surfista, que passou a liderar a categoria, invertendo a posição com a sua conterrânea Jahia Bettero, que venceu a etapa de abertura e desta vez foi a 3ª colocada. No ranking, Luana tem 1.900 contra 1.810 de Jahia. "Vai ser pauleira até a última etapa", brincou a nova líder. Também na final, Kátia Moura, de Praia Grande, outro talento da nova geração, com 16 anos, ficou em 4º lugar.

JOÃO SANTANA ARRISCOU TUDO - Depois, a final open retratou bem a disputa entre cidades, com dois surfistas de Ubatuba, João Santana e Eduardo Silva, e dois de Guarujá, Mike Richard e Ricardo Silva. Mike liderou boa parte da final, mas João apresentou um surf inovador, explorando a parte crítica da onda, o que o critério moderno de julgamento pede. Com um floater (deslizar sobre a crista da onda), ele "encostou" em Mike, mas a radicalidade foi tanta que acabou trincando a prancha.

Mesmo correndo o risco de o equipamento partir ao meio, voltou a arriscar e voou, depois de uma batida de back side (costas para a onda), assegurando a vitória. "Eu sabia que poderia quebrar a prancha, mas decidi ir com tudo", ratificou o surfista de 19 anos, que não participou da etapa de abertura. "Agora, o negócio é recuperar e partir para as outras duas, pensando em bons resultados", emendou João, que venceu por uma diferença de 0,55 ponto - 11,05 a 10,50 de Mike. Ricardo Silva ficou em 3º lugar, seguido de Eduardo Silva. No ranking, Jaime Pereira, de Itanhaém, que perdeu na semi, é o nº 1.

Na disputa por cidades, novamente guarujaenses e ubatubenses travaram um grande duelo, com os donos da casa levando a melhor por muito pouco. A comemoração foi grande. Mas a grande surpresa foi a equipe santista terminar em 3º lugar. "Isso é resultado direto da volta do Circuito Santista. E é justamente isso que queremos, um trabalhão de base bem feito nos municípios", destacou o presidente da Federação Paulista de Surf, Silvio da Silva, o Silvério.

No ranking, onde também são somados os resultados do Circuito Hang Loose Surf Attack, das categorias júnior, mirim, iniciantes, estreantes e petit, as duas cidades estão empatadas, cada uma com duas vitórias. São Sebastião ocupa da 3ª colocação e São Vicente aparece logo atrás. Os melhores surfistas da etapa em cada categoria ganharam cadernetas de poupança. No total, são R$ 4.500,00 por disputa, além de pranchas, kits, troféus e medalhas.

Todas as baterias da etapa estão disponíveis no site www.fpsurf.com.br. A próxima etapa está marcada para a praia do Boqueirão, em Praia Grande, no mês de outubro. O Circuito Paulista de Surf Amador Okdok tem o patrocínio de Brisbane - Têxtil Santa Inês e Sticle Malhas. Co-patrocínio: Sthill, Hot Water, Tent Beach, Quiver, KYW, Styllos, SP Surf e Rip Wave. Colaboração: Prefeituras de Santos e de Guarujá. Organização da Federação Paulista de Surf.

RESULTADOS DA 2ª ETAPA

Categoria Open
1 - João Santana - Ubatuba
2 - Mike Richard - Guarujá
3 - Ricardo Silva - Guarujá
4 - Eduardo Silva - Ubatuba

Categoria Master
1 - Ricardo Toledo - Ubatuba
2 - Almir Salazar - Santos
3 - Paulo Matos - Guarujá
4 - Neno Matos - Guarujá

Categoria Longboard
1 - Danilo "Mulinha" Rodrigo - Guarujá
2 - Adriano "Alemão" Melo - Guarujá
3 - Marcelinho Do Tombo - Guarujá
4 - Kleber Silvano - Itanhaém

Categoria Feminina
1 - Luana Coutinho - Ubatuba
2 - Rose Santana - São Vicente
3 - Jahia Betero - Ubatuba
4 - Katia Moura - Praia Grande

Disputa Por Cidades
1 - Guarujá - 4.176 Pontos
2 - Ubatuba - 4.159
3 - Santos - 2.205
4 - São Vicente - 2.083
5 - São Sebastião - 1.886
6 - Itanhaém - 1.690
7 - Praia Grande - 1.690
8 - Bertioga - 1.271

RANKING - APÓS 2 ETAPAS

Categoria Open
1 - 1.431 - Jaime Pereira - Itanhaém
2 - 1.312 - Júnior Faria - Guarujá
3 - 1.185 - Ricardo Toledo - Ubatuba
4 - 1.092 - Clayton Nunes - Ubatuba

Categoria Master
1 - 1.900 - Almir Salazar - Santos
2 - 1.531 - Ricardo Toledo - Ubatuba
3 - 1.431 - Tekinho Do Tombo - Guarujá
4 - 1.385 - Neno Matos - Guarujá

Categoria Longboard
1 - 1.900 - Adriano "Alemão" Melo - Guarujá
2 - 1.556 - Carlos Bahia - São Sebastião
3 - 1.430 - Danilo "Mulinha" Rodrigo - Guarujá
4 - 1.341 - Amaro Matos - Guarujá

Categoria Feminina
1 - 1.900 - Luana Coutinho - Ubatuba
2 - 1.810 - Jahia Bettero - Ubatuba
3 - 1.260 - Silvia Nabuco - Guarujá
4 - 1.182 - Rose Santana - São Vicente

Cidades (*)
1 - 3.800 - Guarujá
1 - 3.800 - Ubatuba
3 - 3.086 - São Sebastião
4 - 2.777 - São Vicente

(*) No ranking por cidades também são somados os resultados do Hang Loose Surf Attack.