A imprensa publicou recentemente uma matéria sobre ensino superior. Os números indicavam que, em 2004 o ensino superior público atendia 1.178.328 alunos enquanto que o setor privado atendia 2.985.405. Discutia-se a expansão do setor privado entre 1994 e 2004 e a crise que nele se instalou na medida em que o atendimento da demanda, até então reprimida, provocou o excesso de oferta e a ociosidade dos investimentos. A crise agravou-se ainda mais pela medíocre capacidade de gestão da maioria dessas organizações. Daí que apenas algumas instituições se mostram com viabilidade econômica, qualidade de resultados e perspectivas de sobrevivência. A crise do setor público não se mostra menos grave. Há faculdades e universidades públicas que tentam, observando as exigências legais, contratar professores por salários que giram em torno de R$ 1.200,00. Pagam mal e por conseqüência não conseguem contratar profissionais qualificados. Há pouco tempo, fomos solicitados a refazer um concurso de uma universidade pública, facilitando ao máximo as questões. O concurso anterior que oferecia esse salário não possibilitou a aprovação ou o comprometimento de nenhum professor. As greves que se sucedem, a evasão de alunos e os resultados de baixa qualificação são questões do cotidiano do ensino público de nível superior. Basta lembrar os porcentuais de candidatos aprovados pela OAB nestes últimos anos, na área do Direito e as das condições das faculdades de medicina, algumas até traficando cadáveres... Pode-se imaginar que, salvo as exceções de praxe, tanto no setor público como no setor privado a qualidade tende a zero! Daí nossa pergunta: será que dá para sair dessa? Educação e formação profissional são processos longos e caros. Não adianta querer improvisar, apelar para tecnologias, inventar modelitos reduzidos, titulações e neo terminalidades maquiadas. Formação profissional requer tempo, dinheiro e esforço. E, educação num país como o nosso é um processo que se torna cada vez mais caro à medida que os investimentos públicos ou privados são resultados de políticas oportunistas. Infelizmente, oportunismo é o que tem de sobra em nosso ensino superior. Nota do Editor: Sinesio Bacchetto é sociólgo, formado pela PUC-RIO. Ex-técnico da Fundap nas áreas de planejamento, gestão pública de sistemas educacionais e coordenador de projetos de consultoria internacional
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