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Educação
21/09/2007 - 13h04
Mundos que mudam, valores que permanecem
Maria Helena Bresser
 
Uma visão da missão da Escola

Trazendo desafios, perplexidades, dúvidas, as transformações do mundo atual estão legando uma mensagem claríssima, nada nova e muito significativa para pais e educadores: precisamos ter consciência de que pessoas estamos formando.

Temos problemas com a disciplina, com a rapidez das transformações dos costumes, com o mercado de trabalho? Para iniciarmos as buscas pelas respostas, são necessários dois movimentos: um olhar para fora e um olhar para dentro.

Se olharmos pela nossa janela, veremos um mundo novo em formação, fundado basicamente sobre a produção constante e a transmissão veloz do conhecimento. Veremos a passagem da sociedade industrial para a sociedade da informação - movida pelo conhecimento e pela tecnologia.

Há clara tendência de substituição do trabalho físico do homem por máquinas, como computadores e robôs, nas tarefas repetitivas e rotinas de cálculo. Nesse ponto, começam nossos desafios como educadores. A sociedade atual necessita de pessoas: versáteis e flexíveis; com boa capacidade de comunicação; que identifiquem e resolvam problemas; que saibam trabalhar em equipe e negociar; que pensem de forma global e sejam capazes de selecionar e buscar informações em diversas fontes; que dominem as tecnologias de informação (como a Internet) e, pelo menos, o inglês. Basta? Não. Por trás de tudo isso deve haver uma sólida formação acadêmica.

A Escola, portanto, mudou seu paradigma de ensino para aprendizagem. Hoje, ela precisa formar pessoas que saibam estudar e aprender o tempo todo. Caso contrário, esses cidadãos correrão o risco de serem atropelados pelo novo e de perderem o bonde deste mundo competitivo no qual estamos mergulhados.

Isso leva ao imperativo da educação continuada. Não há sistema educacional capaz de ensinar a uma pessoa até seus 25 anos tudo o que terá de conhecer durante sua vida profissional. Mesmo porque durante os anos escolares grandes massas de novos conhecimentos serão produzidas. Assim, a formação contínua fará, cada vez mais, parte da vida profissional.

A função da educação básica não é apenas transmitir o conhecimento arbitrado por um grupo dominante, preocupação quase exclusiva do ensino tradicional, mas, sim, desenvolver habilidades cognitivas em seus alunos, capacitando-os a ler, interpretar, explicar, comparar, analisar, justificar, opinar, abstrair, concluir - enfim a pensar.

A Escola precisa instrumentalizar os alunos, ou seja, dar-lhes as chaves de decifração do conhecimento. Isto é, em vez de decorar todas as capitais dos diferentes países, o aluno deve aprender a consultar um atlas - disponível em papel, CD-ROM ou mesmo na Internet. Da mesma forma, precisa desenvolver, em Matemática, mais do que a habilidade operacional: precisa aprender a equacionar os problemas.

A função da Escola não termina aqui. Tem ainda o papel de trabalhar o conhecimento de forma significativa para o aluno. Se as crianças e os jovens não forem capazes de relacionar o novo conhecimento com o seu acervo anterior, tenderão a ser um depósito de informações. Daí para o desinteresse é um passo.

Não há como atingir objetivos tão profundos sem um compromisso abertamente estabelecido com o aluno, o que deverá gerar disciplina de trabalho, clima adequado à produção intelectual e à convivência respeitosa.

O segundo olhar: a questão dos valores morais

O leitor atento deve estar percebendo. Para entendermos a necessidade de novas posturas na educação, é momento do segundo olhar: para dentro.

A etapa escolar que vai da Educação Infantil ao Ensino Médio não é somente relevante no desenvolvimento cognitivo. Por trabalhar com indivíduos dos 2 aos 18 anos, essa etapa é fundamental na determinação dos valores morais e sociais.

Um tema bastante atual é a preocupação de pais e professores com a disciplina. Para muitos, hoje as crianças seriam indisciplinadas, sem noção de limites, que os pais não impõem e a escola não ensina.

Mas o que chamamos de disciplina? Poderíamos dizer, de modo simplista, que uma criança disciplinada é aquela que cumpre todas as normas estabelecidas por seus pais e professores, além de conviver pacificamente com seus colegas. Entretanto, por trás dessa criança bem-comportada pode estar somente o medo do castigo, o conformismo. Será disciplinada a pessoa que age apenas para evitar castigos ou que ache mais "lucrativo" não enfrentar professores e orientadores?

Precisamos estar conscientes de que nem toda indisciplina é um mal em si. Muitas vezes, torna-se um necessário passo de crescimento a oposição a regras injustas.

Para que uma pessoa seja disciplinada, mas de forma autônoma, há um longo caminho a percorrer, onde as intervenções dos pais e da escola são cruciais.

Sabemos que, nos seus primeiros anos, a criança obedece aos adultos de maneira totalmente heterônoma, isto é, apenas para obter recompensas ou evitar punições. (É também possível que adultos tenham a vida toda uma moral heterônoma - o que não é, claro, o desejado.) Nesse caso, diríamos que ela é obediente, mas não disciplinada.

O desenvolvimento da disciplina corresponde ao surgimento de um controle interno, uma obediência às regras que não dependa mais exclusivamente do controle dos pais ou de outras pessoas. Isso implica a assimilação racional das regras, o que faz surgir a reciprocidade, o respeito mútuo - que vem a ser a capacidade de respeitar o outro e por ele ser respeitado.

Assim, é essencial que se coloquem regras claras de conduta para que as pessoas tenham a oportunidade de compreendê-las (percebendo a utilidade desses parâmetros para a convivência social) e se posicionem diante delas. Introjetadas lentamente, as regras são fundamentais para os valores morais da criança, o desenvolvimento da reciprocidade e da solidariedade.

Além de conquistar a autonomia, o aluno vai alcançar também uma concepção de justiça em que os atos são julgados no contexto das circunstâncias em que são praticados.

A criança e o jovem, na relação com os adultos, compreendem cada vez mais as normas a que estão sujeitos e as interiorizam. Nesse caminho percebem que as regras podem ser mudadas e continuarão a ser legítimas se renegociadas e aceitas pelo grupo. O respeito às regras, que na infância se dava por imposição dos adultos, passa a existir pela cooperação.

No entanto, ainda nos primeiros anos da adolescência o sentimento de justiça é baseado na igualdade das conseqüências por transgressões às regras, independentemente das circunstâncias. Um mesmo ato indisciplinado acaba tendo a mesma conseqüência para alguém que agiu pela primeira vez e para o reincidente.

Apenas com o desenvolvimento da capacidade cognitiva e com a experiência no grupo social é que o adolescente começará a ser capaz de julgar o certo e o errado, considerando as circunstâncias.

Tudo isso para demonstrar que a formação de uma pessoa verdadeiramente disciplinada, moralmente autônoma, é um longo caminho, sedimentado com coerência, consistência e a intervenção sistemática dos adultos.

O aluno e o filho que queremos

É importante notar que a interiorização das normas não se dá somente pela intervenção oral (sermões), mas especialmente pela observação do comportamento de pais e professores (modelos).

Portanto, para que nos tornemos capazes de disciplinar alguém, é bom antes observarmos criticamente os nossos valores e refletirmos sobre as conseqüências que eles podem ter para a vida em sociedade.

Essa aprendizagem moral não vem apenas da escola. É profundamente influenciada pelos pais, pela família. É necessário que pensemos: que valores estão sendo mostrados para a criança? Essa escolha é fundamental para a pessoa que estamos formando. Na Móbile, queremos convictamente alunos que, com seus valores e atitudes, sejam capazes de: pensar sobre a conseqüência de seus atos para si e para a coletividade, controlando respostas impulsivas; conhecer suas capacidades e a do outro, sendo tolerantes com a diversidade e tendo uma auto-imagem positiva; defender seus direitos sem perder de vista o coletivo; ser solidários, mostrando apoio ao outro por ações ou palavras; ser críticos ao questionar a legitimidade e a funcionalidade das regras com argumentos consistentes; ser persistentes, não desistindo frente às dificuldades e sabendo adiar gratificações; perceber o que os outros querem e sentem; ser cooperativos, percebendo as necessidades do grupo, contribuindo para atingir o objetivo e tendo claro que a contribuição do outro é também fundamental; perceber que seu trabalho é fundamental não só para sua formação pessoal, mas como um compromisso social.

Esse quadro de valores e atitudes nunca será completo, pois o viver do dia-a-dia da Escola e as transformações sociais levarão à necessidade de acrescentar novos valores.

Precisamos pensar a disciplina como o desenvolvimento de recursos internos à pessoa, que envolvem valores. É um trabalho contínuo, de longa duração, cujos efeitos não são imediatos e que requer intervenção sistemática e consistente por parte dos adultos.

A partir daí, temos imediatamente duas decorrências.

A primeira é que toda a equipe da Escola - direção, coordenação, professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e pessoal de apoio - cotidianamente reflita sobre os valores assumidos por ela. Precisamos estar "antenados" para comparar o ideal de estudante que temos de formar e aquele que de fato estamos formando.

A segunda decorrência é que a Escola deve atuar em necessária e absoluta parceria com a família, na busca do objetivo final da educação: a preparação para o exercício da cidadania. Como diz o pesquisador Yves de La Taille, "para ser cidadão são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais e diálogo franco entre olhares éticos".


Nota do Editor: Maria Helena Bresser é Doutora em Psicologia e Diretora Geral do Colégio Móbile em São Paulo.

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