Nesta terça-feira, dia 18, recebemos diversos telefonemas e visitas pessoais na sede do jornal. Moradores do Ipiranguinha estavam indignados com o corte de quase todos os pés de cravo que existiam na porta da escola nova. Segundo comentários no bairro, as árvores estavam lá há mais de 40 anos e eram consideradas pela população como patrimônio da comunidade. Um morador do bairro que não quer se identificar, fala ’cobras e lagartos’ dos responsáveis pelo corte dos cravos, mas não podemos reproduzir as palavras usadas. A rua conhecida como rua dos cravos vai ter que mudar de nome, agora vai ser a rua dos sem cravos. O site www.ubaweb.com, com fotos tiradas em 13 setembro, alertava no dia 18 que os cravos seriam cortados e foi o que aconteceu. Olhando a obra onde um iluminado fez o projeto na entrada da escola com local para descida e subida dos alunos no meio de todas as árvores, caberia ao iluminado ter previsto no projeto a troca das árvores de local, mas é muito mais barato cortar tudo que mudar os cravos para outro lugar. Também na área de estacionamento, vários cravos foram cortados, mas o iluminado poderia ter feito o projeto em volta dos cravos sem ter que cortá-los. A falta de respeito e de compromisso da empreiteira para com a natureza é nítida, pois é muito mais barato cortar tudo que adaptar o projeto. Enquanto em outras cidades as pessoas lutam para salvar uma árvore, aqui muitas vezes lutam para cortar. Não somos, nem nunca fomos os chamados com todo respeito ’ecochatos’, mas em muitas horas eles estão cobertos de razão. Com um pequeno gasto a mais, a empreiteira teria mudado os cravos de local, ou adequado o projeto ao redor das árvores existentes. Árvores com mais de 40 anos destruídas em segundos. Dizer que isto atrasaria a obra também não cola, pois a escola já deveria ter sido entregue; a obra já está atrasada. Tentamos entrar em contato com o secretário de Obras, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta edição. Ouvindo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente A equipe do jornal A Semana procurou a chefe de limpeza das praças e das vias públicas, Leila Samara, que revelou que os pés de cravos estavam muito danificados, com a copa reduzida, tronco com trincas, tudo com fortes indícios de queda. Segundo ela, as árvores já estavam, há dois, três anos com todas as folhas amareladas. "Numa árvore saudável que sofre um corte, a copa não cai assim da noite pro dia. Elas estavam comprometidas mesmo sem a obra", afirmou categoricamente, alegando que vários moradores ali por perto podem confirmar, em comparação com aquela que está saudável. Ela disse também que não sabe a causa da doença, mas talvez as mudas não fossem saudáveis ou as raízes bateram em algum lugar, porque elas não estavam com troncos tão frondosos quanto a outra. Só um levantamento com fotografias antigas e outros mecanismos poderia comprovar. Segundo Leila, a empreiteira não estava autorizada a cortar as árvores, pois já tinha sido proposto um acordo de proteção das mudas durante todo o trabalho e a sugestão da reposição, independente da troca por árvores nativas, que a secretaria sempre faz quando autoriza a retirada de uma árvore. Porém não tem nada assinado. "A reposição é pra resgatar a história", finalizou. O engenheiro Matheus Cembranelli, diretor de licenciamento, fiscalização e controle ambiental, relatou que as árvores estavam realmente em estado raquítico, mas com desenvolvimento superior ao normal da espécie, comparadas a outras mais vistosas. Ele afirma que quando realizou a vistoria, as obras já tinham sido iniciadas (04/09/07) e, por isso, não sabe quando começou o desgaste das árvores. Mas garante que as raízes foram cortadas, há muito tempo, o que comprometeu a saúde dos craveiros e a segurança de todos que por lá passam. "Isso não consta do meu relatório. Eu só vi que foi feita uma poda na raiz, não sei em que situação. Foi a primeira vez que eu fui ao local, nem tinha conhecimento destas árvores", ressaltou. A secretária de Meio Ambiente, Cristiane Gil, declarou que não tem informação sobre a empreiteira, pois a solicitante é a Secretaria de Obras, que é quem vai assinar o pedido. "Então, a penalidade não será aplicada até que seja definido se foi causada ou não pela obra", relatou. Cristiane diz que a Lei Municipal 1.028 dispõe sobre multas e que está condicionada ao Código Florestal. "Assim, se o cidadão desmata, tem que fazer um plantio e cuidar do local, assinando um termo de compromisso", explicou. Já Vanderlei dos Reis Alqueiroz, presidente da Associação Moradores do Alto Ipiranguinha (AMAI) e morador há mais de dez anos no bairro, quando viu as árvores cortadas ficou muito indignado. "Nossa história estava sendo derrubada! Em poucos segundos, acabaram com as árvores que gerações cuidaram por quase 50 anos", reclamou. Alqueiroz tem uma filha que estuda na escola Mário Covas, que vai ser transferida para a escola recém-construída e se pergunta como vai explicar para uma criança de dez anos tamanha depredação. Além de usufruir a sombra das árvores, os moradores usavam também suas folhas e flores para remédios e chás. "Infelizmente, é mais uma grande perda para a comunidade e só nos resta lamentar essa irresponsabilidade", criticou.
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