Se um artista conseguiu traduzir com fidelidade os dramas e conflitos da adolescência, este alguém foi Renato Russo. A sensação de sufoco e desespero sobre o vestibular, muito comuns nesta etapa da vida, foi muito bem abordada pelo artista:

"Estou trancado em casa e não posso sair
Papai já disse, tenho que passar
Nem música eu não posso mais ouvir
E assim não posso nem me concentrar

Não saco nada de Física
Literatura ou Gramática
Só gosto de Educação Sexual
E eu odeio Química

Não posso nem tentar me divertir
O tempo inteiro eu tenho que estudar
Fico só pensando se vou conseguir
Passar na porra do vestibular..."

Química, de Renato Russo, gravada pela Legião Urbana

"A vida estudantil e os desafios que ela traz sempre se constituíram numa fonte de ansiedade para o jovem. Esta ansiedade aparece bem antes do vestibular. Ao tirar uma nota baixa, na sétima série, ele teme não passar de ano. Ao ficar de recuperação e reprovar no segundo ano do ensino médio, sofre o desconforto de estar atrasado em relação à turma. E na hora do vestibular, a tensão se torna muito maior, pois os medos são muitos e mais diversos: medo de não ser bem sucedido, de não escolher a profissão correta, de não conseguir a independência financeira dos pais, medo de fracassar...", afirma a psicóloga Adriana de Araújo, psicoterapeuta especializada no tratamento de fobias.

O vestibular é hoje mais do que um caminho árduo de acesso ao ensino superior. "Ele é um grande atestado social. Quem ’passa’ ganha o status de vencedor, inteligente, capaz. Quem é reprovado recebe a marca de perdedor, de inapto à vida adulta, de incapaz de realizar seus sonhos. É assim que se sentem os candidatos que enfrentam o vestibular todos os anos", diz a psicóloga. Sem entrar no mérito da discussão sobre se o vestibular é ou não é a melhor maneira de ter acesso à universidade, o certo é que no próximo ano, e provavelmente durante mais alguns também, milhares de estudantes terão que ’enfrentá-lo’. "E o medo do fracasso, a competitividade exacerbada do período e o sentimento de ver frustrados seus planos para o futuro deixam os estudantes à flor da pele. Alguns passam mal apenas ao imaginar em dar a notícia em casa de que não passaram no vestibular. Outros sofrem com a idéia de ter que ficar respondendo que não conseguiram a todos aqueles que lhes perguntarem: e aí como foi? Todos estes medos aumentam muito a pressão e a cobrança sobre o candidato", explica Adriana de Araújo, que também é hipnoterapeuta.

Um branco

É muito comum ouvir o relato de candidatos estudiosos e preparados que, na hora das provas, não conseguem desenvolver tudo o que podiam, ’dá aquele branco’, eles entram em desespero e não conseguem se concentrar na resolução das questões. Segundo Adriana de Araújo, "trata-se de estresse, uma reação do organismo a um fato que muda a rotina. O estresse altera o humor, a fome e o sono e pode desencadear perda de memória, problemas de pele, asma, alergias e até hipertensão". Além disto, está associado ao desencadeamento de quase todo tipo de doença - normalmente dentro da pré-disposição de cada indivíduo.

Dentre os principais sintomas de estresse comumente encontrados entre os estudantes que estão prestando o vestibular, podemos enumerar: insegurança; pressentimento de nada saber; expectativa do pior; incapacidade de relaxamento; bloqueio afetivo / não saber o que fazer; tensão motora; falsas interpretações da realidade pessoal; dificuldade de concentração e assimilação; tendência à dúvida; tendência de que pensamentos negativos e derrotistas os dominem; inquietude interior.

O que fazer então?

A família pode ajudar o jovem nesta etapa da vida, encaminhando-o para a psicoterapia, se perceber que o problema da ansiedade não está relacionado apenas à proximidade do vestibular. "Normalmente, o jovem que já é ansioso torna-se mais ansioso nesta etapa, comprometendo seu rendimento, apresentando dificuldades para dormir, comer e se relacionar de forma saudável com as pessoas à sua volta", diz a hipnoterapeuta.

"É possível fazer uma preparação mental para o vestibular. Durante o atendimento que prestamos para a preparação de vestibulandos, procuramos ensinar o jovem a trabalhar a ansiedade gradualmente, para que ele aprenda a se controlar e a se concentrar. Esse novo comportamento certamente lhe proporcionará um rendimento mais satisfatório", diz a psicóloga. Na preparação, segundo Adriana de Araújo, exercícios de respiração, visualização do sucesso e a hipnose são muito úteis.

Na hora H...

A seguir, a psicóloga enumera algumas atitudes que podem auxiliar o estudante antes do vestibular a manter o controle emocional:

1) Na reta final do vestibular, é comum querer compensar tudo o que deixamos de estudar. Se até aqui você estudava de 2 horas por dia, este não é o momento para aumentar a carga para 24 horas de estudos. "Esta overdose só irá sobrecarregar sua mente, comprometendo a assimilação destas informações", observa Adriana;

2) Estude e acredite em você e no seu potencial. Faça o melhor que puder. "Não se coloque numa posição de vítima ou de sobrecarregado, lembre-se que esta é mais uma etapa da vida e que muitas pessoas já conseguiram vencê-la", diz;

3) Não abandone as atividades de lazer e esporte, pois elas o auxiliam a controlar a ansiedade e o estresse. "É importante manter o equilíbrio entre o preparo e o relaxamento", defende Adriana de Araújo;

4) O controle emocional é parte importante na preparação para o vestibular. Fazer uma prova com tranqüilidade é um enorme passo para um bom resultado. "Pior do que não passar no vestibular por não estar bem preparado é não passar por não conseguir aplicar o você aprendeu", recomenda;

5) Durma bem. O sono também é essencial para o processo de aprendizagem, além de recarregar nossas energias;

6) Alimente-se equilibradamente. Uma dieta balanceada fará com que você se sinta melhor, além de contribuir com os nutrientes necessários para o desenvolvimento das atividades intelectuais. Coma frutas e verduras. Evite alimentos gordurosos e beba bastante líquido. Controle o álcool e o café. Reduza ou evite o cigarro;

7) Encare a ansiedade e o medo com naturalidade. Todos sentem a mesma coisa diante de um desafio. "O importante é controlar-se na hora da prova, não permita que o nervosismo seja superior aos seus conhecimentos", lembra a psicóloga;

8) A família pode e deve ajudar, evitando fazer pressão, comparações ou "brincadeirinhas" que só fazem aumentar a tensão do vestibulando.