Abraça-me forte meu santo quero sentir meus ossos estalarem contra seu manto nesta noite de natal quero lhe fazer um pedido um pedido boçal que só você, Nicolau com seu imaginário trenó pode espalhar pelo mundo, como se fosse pó... Leve a verdade a essa terra onde os joelhos se gastam diante de cruzes enquanto risos de escárnio ecoam sob os capuzes... Leve a verdade aos pobres coitados que dormem nas portas das suntuosas igrejas erguidas em louvor à ignorância e morrem de fome e ânsia... enquanto sacerdotes sádicos se auto-flagelam, como antes, com seus chicotes de ouro e diamantes enquanto exploram os inocentes em nome de algum deus conivente... Que gente indecente Nicolau... Que gente indecente... Abraça-me santo inexistente quero o fogo de seus olhos ardentes queimando as almas dos doentes, dos loucos que criaram o mal e o bem como instrumento de tortura pra subjugar toda cultura e colocar o planeta de joelhos, dizendo amém... Nicolau... que seu natal seja maior que o mal que seu fel adoce o sal... vamos ao céu... tirar das tais virgens o hímen placêntrico da maldição de reproduzir vermes sem visão vamos a Roma vamos a Galiléia vamos ao Egito vamos ao inferno mas, que neste natal, todos ouçam este grito... Gritemos!! gritemos!!! todos juntos!! até acordar os defuntos porque a humanidade só será livre e sã quando não tiver alma, não for cristã e nem pagã Só quando estiver livre da monstruosa idéia milenar de que foi preciso um deus pra criar um deus mudo, cego e surdo a quem orar imaginado por homens maquiavélicos que inventaram o pecar e compilaram bíblias e elegeram profetas e construíram altares, santos e demônios e formaram essa civilização de patetas incapazes de ver o óbvio e de pensar Papai-noel, atenda por favor meu pedido... vivo nessa imundície perdido cercado de seres impensantes que acreditam em milagres, coitados... Coitados... Coitados... São Nicolau, neste natal, mostre a eles que o único milagre incontestável, é que somos filhos do imponderável resultado de milênios de evolução incontrolável Símios, descendentes de amebas, que chegaram ao espaço e desvendaram o indesvendável... Seres maravilhosos, que compreenderam a mecânica das forças universais mas continuam subjugados como animais buscando forças invisíveis, milagres e devaneios que lhes aplaquem o anseio da consciência da morte... É isso, Nicolau, neste natal, Desejo que todos vejam Que nossa espécie teve uma fantástica sorte... Que milagre poderíamos querer mais?! Nota do Editor: Edmundo Pacheco é escritor por devoção, 46 anos, poeta por impulso, jornalista por profissão há 28 anos. Pai da Édile e do Dilee, marido da Sueli, avô da Julia. Três ou quatro livros escritos, nenhum publicado (procura editora, séria, desesperadamente). Perfil? Bom, já foi bóia-fria, catador de batatas, lavador de banheiros, pasteleiro, feirante, churrasqueiro de restaurante beira de estrada, pacoteiro, vendedor de tecidos, derriçador de café, repórter de impresso, pauteiro de TV, assessor de imprensa, revisor, diagramador, editor de texto de TV, funcionário público estadual e municipal, dono de lanchonete, confeccionista, balconista, corretor de imóveis, editor-chefe de telejornal, entre outros... Atualmente vende sanduíche natural na praia de Inajá, onde mora.
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