É tempo de perdão pelo tempo perdido É a perda de tempo que nos mantém cativos Não o tempo sem valor ou a chance fria Mas o tempo do coração em queda livre É tempo de perdão pela vida no exílio Tempo sem razão do obscurantismo Tempo escoado pela falta de um grito A fala enterrada do tempo partido É tempo de perdão pelo que poderia ter sido Por jogarmos o tempo pela janela de vidro Onde não vemos o tempo que o vento sibila E perdemos a canção sem tempo nem brilho É tempo de perdão pelo poema sem sentido A palavra que o tempo repassa sem ruído Pelo tempo que arranjamos longe do espírito Esse tempo não redime o estranho convívio É tempo de perdão para dizer meu amigo De construir uma fogueira do tempo antigo Que se aviste de longe, no tempo redivivo E que nos faça curar o tempo e sua ferida É tempo de perdão no ano que se fina Tempo de comunhão mesmo que termine Quando temos tempo no instante tísico É só um aperto de mão no tempo assassino É tempo de perdão, venha ter comigo Algum tempo que desperte a pedra insensível E que tenha tempo composto no capricho mesmo que o tempo devore seus filhos É tempo de perdão e não de arrependidos É tempo de oração, do pão que é repartido Lugar comum do tempo, feito de granito Onde pousamos o tempo de rosto infinito Nota do Editor: Nei Duclós é autor de três livros de poesia: "Outubro" (1975), "No meio da rua" (1979) e "No mar, Veremos" (2001); de um romance: "Universo Baldio" (2004); e de um livro de conto e crônicas: "O Refúgio do Príncipe - Histórias Sopradas pelo Vento" (2006). Jornalista desde 1970 e formado em História.
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