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01/01/2008 - 10h07
Nova antologia poética, de Mario Quintana
 
 
Antologia do poeta reafirma sua crença na poesia e a sua rara lucidez suave

O livro

O poeta gaúcho Mario Quintana, cujo centenário se comemorou no ano passado, foi se tornando, a partir dos anos 1960, cada vez mais conhecido e cada vez mais apreciado por um número maior de leitores - o que sua morte, em 1994, apenas reforçou. Foi por isso, e em respeito a sua vasta obra, que a Editora Globo passou a reeditá-la, a partir de 2005, de modo sistemático, na Coleção Mário Quintana, coordenada por Tânia Franco Carvalhal, que responde, nesta Nova antologia poética (17º título da coleção, 220 pp.), também pela bibliografia e pela cronologia. O volume conta, ainda, com um alentado prefácio do poeta Eucanaã Ferraz.

A extensa obra de Mario Quintana não é fácil de classificar, por ter adotado todas as formas da poesia verbal, do soneto ao poema em prosa, passando pelo verso livre. Se isto é verdade para a obra em geral, é ainda mais verdade para uma antologia.

Mario Quintana é filho do modernismo de 1922. Daí o coloquialismo, a variedade formal, a ironia, a urbanidade. Não por acaso, seu estilo tem algo de Bandeira, mas também de Drummond. Ao mesmo tempo, deles se afasta, e também se afasta do próprio modernismo (ao menos sob um aspecto), ao eliminar o ceticismo que o marca. Quintana é um poeta que crê na poesia. Quintana tem na palavra poética uma amiga e uma aliada. Essa aliança, ele a transmite a seu público, que não tem, portanto, de "lutar" para lê-lo, como com os demais poetas modernos, em graus variados de atrito com as asperezas do texto. Não há asperezas em Quintana. Sua suavidade, porém, é temperada pela lucidez.

Há, na verdade, uma iconoclastia suave em Quintana, apesar de iconoclastia e suavidade não serem comumente miscíveis. Daí se começa a perceber onde está sua arte. Pois há poetas em que a arte é evidente, como na sintaxe particular e particularmente dura de Cabral. Já em Quintana, como em Bandeira, a poesia está lá, sabe-se que está, mas não se sabe facilmente localizá-la, em meio a versos que parecem meras frases, ou em meio a uma poesia que parece uma prosa entrecortada. Já no primeiro poema desta antologia, "Aula inaugural", temos, talvez não por acaso, uma verdadeira aula de sua poética. "É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis como na guerra do Paraguai... / Mas eram bem falantes / E todos os seus gestos eram ritmados como num balé / Pela cadência dos metros homéricos. / Fora do ritmo, só há danação. / Fora da poesia não há salvação." O poema começa com uma longa frase coloquial, e logo introduz a idéia de ritmo ("eram ritmados"). Em seguida, realizando a idéia de ritmo, há um perfeito decassílabo heróico, que fala, ora, de "cadência", de "metro" e de "homérico" ("Pela cadência dos metros homéricos"). Então o ritmo torna-se, ele mesmo, o sujeito ("Fora do ritmo, só há danação"), para que, afinal, tudo se desdobre na própria poesia: "Fora da poesia não há salvação". Acontece que isto é uma paráfrase de um dos mais duros dogmas católicos, "Fora da Igreja não há salvação". Em suma, de um começo coloquial, falando meio ao acaso da Ilíada, pouco a pouco se afunila, sem que se perceba, para versos metrificados que falam do ritmo, para culminar numa profissão de fé na poesia que é, ao mesmo tempo, um destratar de um dogma religioso. Quintana pode ser suave, pode parecer leve, mas nada tem de ingênuo.

Trecho

A ciranda rodava no meio do mundo,
No meio do mundo a ciranda rodava.

E quando a ciranda parava um segundo
Um grilo, sozinho no mundo, cantava...

Dali a três quadras o mundo acabava,
Dali a três quadras, num valo profundo...

Bem junto com a rua o mundo acabava.
Rodava a ciranda no meio do mundo...

E Nosso Senhor era ali que morava,
Por trás das estrelas, cuidando o seu mundo...

E quando a ciranda por fim terminava
E o silêncio, em tudo, era mais profundo,

Nosso Senhor esperava... esperava...
Cofiando as suas barbas de Pedro Segundo.

("Canção do meio do mundo")

O autor

Mario de Miranda Quintana nasceu em 1906, em Alegrete (RS). Em 1919, matriculou-se no Colégio Militar de Porto Alegre, que abandona em 1924. Em 1926, começa a trabalhar na Livraria do Globo, ao lado de Mansueto Bernardi, na seção de literatura estrangeira. Colabora na Revista do Globo e no jornal O Estado do Rio Grande. A Editora Globo publica seus primeiros livros de poesia: A rua dos Cataventos (1940), Canções (1946) e Sapato florido (1948). Seu quarto livro, O aprendiz de feiticeiro (Edições Fronteira, 1950), obtém grande repercussão crítica, sendo o preferido de Bandeira e Drummond. O quinto, Espelho mágico, é lançado em 1951, pela Globo. Em 1953, ingressa no Correio do Povo, de Porto Alegre. Em 1961, publica Poesias, reunindo a produção anterior. Em 1967, recebe o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre. Em 1973, é lançado o famoso Caderno H, com os textos publicados em periódicos, como A Província de São Pedro (1945) e o Correio do Povo (a partir de 1953). Em 1974, o governo do RGS concede-lhe a medalha Simões Lopes Neto. Em 1976, ano em que completa 70 anos, é publicado Apontamentos de história sobrenatural (Globo), pelo qual recebeu o prêmio Pen Clube de Literatura Brasileira no ano seguinte. A obra poética de Quintana é vasta, somando mais de 35 títulos, dentre os quais alguns de literatura infantil. Além disso, participou de inúmeras antologias no Brasil e no exterior, tendo diversos poemas traduzidos em periódicos internacionais. Paralelamente, Quintana foi um grande tradutor, vertendo mais de 30 obras para o português. Destacam-se Lord Jim, de Conrad, Eu, Claudius, Imperador, de R. Grave, No caminho de Swann, O caminho de Guermantes e Sodoma e Gomorra, de Proust, Mrs Dalloway, de Virginia Woolf e Novelas completas, de Merimée. A bibliografia sobre Quintana é também extensa, reunindo textos e homenagens (em prosa e verso) de Augusto Meyer, Sergio Milliet, Carlos Drummond, Celso Pedro Luft, José Paulo Paes, Paulo Mendes Campos, Mario da Silva Brito, Massaud Moisés e Erico Veríssimo, entre outros. Mario Quintana faleceu no dia 5 de maio de 1994.

Ficha técnica

Título: Nova antologia poética
Autor: Mario Quintana
Editora: Globo
Gênero: Poesia
Capa: Isabel Carballo
Preço: R$ 28,00
Número de páginas: 220
Formato: 20,7 cm x 12,4 cm
ISBN: 978-85-250-4375-7

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