As empresas brasileiras - como se não bastassem as desvantagens competitivas dos juros exagerados, impostos obscenos, conflito tributário, câmbio esquizofrênico, elevadíssimos encargos trabalhistas e custo gerado pela deficiência da infra-estrutura - enfrentam outra dificuldade aguda: a de fazer planejamento eficaz, esta saudável prática dos empreendimentos vencedores. Tal impossibilidade, obviamente, tem impacto nas previsões de custeio, investimentos, prospecção de novos mercados e até mesmo na política de preços.

A estabilidade do Real não foi suficiente para permitir aos empresários do País a realização de planejamento anual e qüinqüenal, como costumam fazer com detalhes aritméticos os seus competidores de outras nações. Um dos maiores obstáculos a esse preceito básico da administração encontra-se na deficiência e instabilidade da infra-estrutura. Pergunta-se: como uma gráfica pode planejar investimentos na instalação de nova unidade em região de mercado promissor, sem a certeza de que haverá transporte e energia (e sob quais tarifas?) para garantir as operações e estratégias logísticas?

Imaginem as empresas, de distintos setores, que têm operações dependentes do sistema aéreo. A partir do apagão de 2006 e dos tristes acidentes, seu transtorno é imenso e sua projeção de custos foi para o espaço (sem qualquer intenção de trocadilho). E as indústrias que acreditaram na promessa do gás natural para mover suas turbinas? Como o País preferiu confiar na Bolívia de Evo Moralez do que explorar devidamente suas próprias reservas, está prestes a dar um calote energético.

Apesar da "memória curta" dos brasileiros, temos ainda em nossas mentes o caos criado pela má manutenção das rodovias, que agonizavam em 2006 e, passado um ano, feitas promessas de investimento de R$ 8 bilhões e de operação "tapa-buracos", continuam em estado lastimável, apenando a economia e os usuários. Do total divulgado no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), pouco mais de R$ 1 bilhão foi aplicado e, mesmo assim, de maneira duvidosa.

Outro exemplo emblemático: os taxistas investiram na compra de carros já aptos a utilizar o gás ou na conversão dos veículos. Fizeram a conta e planejaram quantas corridas teriam de fazer durante o ano para ter retorno do capital e manter lucro mínimo. Tudo está indo água abaixo, pois o combustível deverá faltar e seu preço subirá. Suponham a proporcionalidade desse problema para uma indústria, como tantas, que tenha investido alguns milhões de dólares numa planta movida a gás natural.

Também é impossível planejar sem a certeza de que insumos cruciais, como eletricidade, terão fornecimento garantido e política estável de preços. Os gráficos ainda se recordam dos blecautes de 2001 e de quanto custou alugar geradores a diesel para manter as impressoras vivas. Claro que tal custo extra não estava nos planos, até porque o governo, além de não suprir a infra-estrutura, ainda tem o requinte de maldade de não avisar previamente, empurrando os problemas, o mais que pode, com a sua grande barriga marqueteira.

Tal situação torna alarmante o estágio incipiente dos investimentos do PAC em infra-estrutura. Para os empresários, que, ao contrário do governo, não fabricam dinheiro com uma canetada tributária para enfrentar contingências e surpresas, resta a certeza amarga de que, neste país, planejar, embora absolutamente necessário, não é preciso.

Nota do Editor: Jacks Ubiratan é presidente do Conselho Diretivo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).