Educadores de mais de 100 países se reúnem em São Paulo e cobram ação dos governos no cumprimento das metas Educação Para Todos, da Unesco. Brasil tira nota B-
“Não estamos aqui para mendigar por mais Educação. Chega de promessas. Educação já!”. Com este apelo, o presidente da Campanha Mundial pela Educação, o indiano Kailash Satyarthi, abriu a 3ª Assembléia Mundial da entidade, nesta terça-feira, dia 22, em São Paulo. Segundo os organizadores, mais de 150 ativistas e educadores de cerca de 100 países participam do evento. Satyarthi destacou os avanços da educação no mundo, desde a Cúpula Mundial de Educação para Todos, da Unesco, em 2000 em Dakar, Senegal, mas alertou que 72 milhões de crianças ainda estão fora da escola em todo o mundo (eram 130 milhões em 2000) e 774 milhões de adultos são analfabetos (eram 880 milhões). Ele culpou os governos que não estão cumprindo as metas da Unesco de usarem o “analfabetismo como arma de dominação”. Satyarthi reconheceu que em muitos países a pobreza impede o acesso à educação, mas ressaltou que em vários deles o que existe, de fato, “é uma pobreza de vontade política”. Sem desculpas Segundo o relatório “No Excuses” (Sem Desculpas), publicado pela Campanha Global pela Educação no final de 2007, a maioria dos 178 países pesquisados desde 2000 está longe de alcançar as metas do Educação para Todos. "Houve avanços em algumas nações, mas a falta de qualidade ainda preocupa, especialmente com relação às meninas, às crianças deficientes e àquelas que vivem em áreas rurais. Em áreas de conflito não aconteceram quaisquer progressos", diz o texto. O relatório atribui notas de A até F para as ações dos governos. Os cinco primeiros são Ilhas Maurício, Letônia, Uruguai, Hungria e Eslováquia. Os últimos são Haiti, Somália, Guiné-Bissau, Micronésia e República Centro-Africana. O Brasil obteve nota B- e aparece em 16º lugar entre 156 países em desenvolvimento no ranking global. Tecnologia x Educação A ministra da Educação de Bangladesh, Rasheda Choudhury, lamentou que a corrida pelas novas tecnologias no mundo ainda não tenha provocado resultados concretos na melhoria da qualidade da educação. De acordo com ela, os bilhões de dólares gastos com armas seriam suficientes para reduzir consideravelmente a fome infantil, melhorar a qualidade da educação, preservar o meio ambiente e eliminar muitas guerras. A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Lacerda, fez uma exposição sobre o Plano de Desenvolvimento da Educação, o PDE, com destaque para o investimento do governo na educação infantil. Ela informou que o governo federal investiu, em 2007, R$ 340 milhões na construção de quase 484 creches e pré-escolas e pretende gastar este ano mais R$ 400 milhões para construir mais 510 unidades. Serão beneficiadas, segundo ela, 100 mil crianças. Segundo Pilar, apenas 15% das crianças brasileiras de 0 a 3 anos estão na creche hoje. Competindo com o crime O secretário geral da presidência, Luiz Dulci, disse que, além do PDE, o governo federal está investindo R$ 5 bilhões no Projovem, programa que acelera a escolaridade dos jovens, promove cursos de orientação profissional e informática e concede um auxílio para os participantes. De acordo com ele, o programa tem o objetivo de atender os 5 milhões de jovens entre 16 e 29 anos que não completaram o ensino fundamental. “Estamos competindo com o crime organizado. No Recife, entre a inscrição e a matrícula para adesão ao Projovem, oito jovens foram assassinados. No Rio, 80 foram presos", disse. O coordenador da Campanha pelo Direito à Educação, Daniel Cara, um dos organizadores do evento, frisou a importância da organização da sociedade civil para pressionar os governos a investirem mais na qualidade da educação. Ele lembrou o papel da entidade na regulamentação do Fundeb e disse que a luta agora é pela implantação em todas as redes de ensino do Custo Aluno Qualidade (CAQ), um indicador que calcula qual o valor a ser investido para garantir uma educação de qualidade para todos. De acordo com ele, são necessários R$ 19 bilhões para assegurar a qualidade na educação de todos os brasileiros. A Campanha Global pela Educação é uma entidade internacional que promove a educação como um direito humano e mobiliza pressão pública sobre os governos e a comunidade internacional para que cumpram as promessas de oferecer educação básica gratuita e obrigatória para todas as pessoas.
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