Na Folha de S.Paulo de 24 de abril, o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Roberto Muylaert, publicou artigo sobre as "Vantagens de um monoglota", dizendo que, "por ser monoglota, o presidente Lula está sempre à vontade, em qualquer entrevista que enfrente, nos diversos países que visita". Bem, excetuando-se um certo percentual de ironia contido no artigo, é salutar que nos concentremos nos dois últimos parágrafos do mesmo, para depois comentá-los: "Fernando Henrique Cardoso, embora nascido ‘la bas’, como eles dizem, brilhou na Assembléia Nacional Francesa falando no idioma pátrio deles. Mas, durante o solene discurso, deve ter ficado com as mãos frias". "E não se diga que há compatriotas que falam tão bem a língua dos outros que podem debater no idioma deles de igual para igual. Não é verdade: quem fala como eles pensa como eles". Primeira observação: por mais culto e preparado que seja o ex-presidente Fernando Henrique, é de se crer que tenha aprendido francês depois de adulto, já que não descende, como se sabe, do nobre povo gaulês e nem foi alfabetizado em uma escola bilíngüe a partir de um ano e meio de idade. Segunda observação: para que haja "compatriotas que falam tão bem a língua dos outros que podem debater no idioma deles de igual para igual", é preciso que esse compatriota tenha tido uma formação bilíngüe desde a mais tenra idade, a partir de um ano e meio de idade, por exemplo, de acordo com parâmetros escolares internacionais. Uma proposta escolar adequada à nossa época é formar indivíduos bilíngües, que se expressem tanto em português quanto em inglês com a mesma desenvoltura. Português, porque é sua língua materna; inglês, porque o mundo globalizado de hoje demanda uma língua universal. Os benefícios da educação bilíngüe são vários: na comunicação, um bilíngüe pode se comunicar com maior número de pessoas do que um monolíngüe ou monoglota, e assim poderá conhecer e se relacionar melhor com pessoas de diferentes culturas. Pode também ler e escrever em dois idiomas, ouvir músicas e ler livros e revistas na língua original e ainda compreender mais profundamente as diferentes idéias e maneiras de pensar neles descritos. Há também benefícios culturais, pois um bilíngüe tem acesso a duas ou mais culturas, o que pode significar dois mundos e experiências muito diferentes. Junto com a língua vem ainda o domínio de expressões idiomáticas, histórias folclóricas ou reais, rituais, jeitos de demonstrar carinho etc. E, devido à compreensão de culturas diferentes, um bilíngüe desenvolve uma tolerância maior frente às dificuldades e diferenças, pois entende que existem diversas maneiras de pensar e agir. Benefícios cognitivos também foram registrados, pois estudos e pesquisas mostram que bilíngües desenvolvem melhor suas habilidades: testes de QI realizados em diversos países demonstram maior rendimento dos bilíngües quando comparados a monolíngües ou monoglotas. Finalmente, um bilíngüe tem maiores opções de trabalho, tanto no Brasil quanto no exterior. E tem também maior facilidade para aprender uma terceira ou quarta línguas. Mas é importante lembrar que um bilíngüe autêntico só pode ser formado a partir da mais tenra idade, para que possa dominar uma segunda língua em seus diversos aspectos: na comunicação, culturalmente e cognitivamente. Nota do Editor: Maria Cecília Materon Botelho é diretora pedagógica da See-Saw / Panamby (cica@see-saw.com.br).
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