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Poesias
21/06/2008 - 05h42
Fernando em Pessoa
Juarez José Viaro
 

Num meio-dia de fim de outono
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Fernando Pessoa voltar à Terra.
Veio pela ladeira de um morro,
Tornado desta vez moleque,
Correndo e rolando na grama
E arrancando flores só por safadeza
E rindo de tudo a sua volta.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir-se
De maior poeta português.
No céu tudo era falso e monótono,
Sem vida, nem flores, nem mulatas.
No céu tinha que ser sempre sério
E de vez em quando dar pulos de raiva
Quando algum crítico literário
Resolvia analisar seus poemas
E defender alguma tese qualquer
Para poder estudar na Europa.
Nem sequer deixavam ser ele mesmo
Como os outros poetas.
Diziam que ele era três heterônimos:
Ricardo Reis, um poeta lírico e pagão;
Um poeta da natureza chamado Alberto Caeiro;
E Álvaro de Campos, poeta urbano e moderno.
E queriam que ele, que era filho de pai e mãe
Fosse tanta gente numa personalidade só
E falasse de tudo com coerência.

Um dia em que Deus estava dormindo
E os imortais tomavam seu chá das cinco
Ele foi à caixa de milagres e roubou três.
Com o primeiro fez os críticos se esquecerem dele;
O segundo transformou-o num moleque do Brasil
- Já que era filho de Deus brasileiro -
E o terceiro fez com que, em vez de 120 anos,
Voltasse a ter dez anos de idade.
Depois tomou um raio de sol
E fugiu de volta à Terra.

Hoje vive em minha cidade comigo.
É uma criança alegre e natural.
Limpa o nariz na manga da camisa,
Joga futebol e empina papagaio,
Fala palavrões para as meninas,
Rouba frutas na feira,
Atiça e corre dos cães chorando
E porque sabe que elas não gostam,
Mas todo mundo acha graça,
Corre atrás das mulheres
Que descem as ladeiras
Com latas d’água na cabeça
E levanta-lhes as saias.

A mim ele tem ensinado muito.
Ensina-me a gostar e olhar para as coisas.
Aponta-me toda a simplicidade da vida
E olha com olhar brilhante para a natureza.

Essa é a minha história de Fernando Pessoa.
Por que razão não há de ser mais verdadeira
Que tudo que os livros explicam
E tudo que os estudiosos ensinam?

(Fernando Pessoa completaria 120 anos, no dia 13 de junho de 2008. Este poema é uma paródia do poema VIII de “O Guardador de Rebanhos” de seu heterônimo Alberto Caeiro).


Nota do Editor: Juarez José Viaro é jornalista e escritor.

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