Vida de empresário não é fácil. Há sempre tantos afazeres, inúmeros compromissos a cumprir e o tempo é sempre tão escasso. Isso sem contar as preocupações impostas pelo mundo dos negócios. Mas, por incrível que pareça, o que mais consome minutos e neurônios nada tem a ver com a concorrência, com a conjuntura econômica ou com as variações do mercado, e sim com encontrar formas de motivar o pessoal interno para que o trabalho seja o que, de fato, deve ser: uma diversão. No mar de livros existentes sobre o assunto é fácil naufragar e nem sempre encontrar um porto seguro. E como de praxe acontece, a resposta que queremos nos chega quando relaxamos e desistimos de pensar no assunto com tanta avidez. Foi em um desses momentos que me lembrei de minha própria experiência, décadas atrás, quando morei em uma pequena cidade chamada Negev, no deserto de Israel e onde aprendi uma lição valiosa que jamais esqueci. Na verdade, foram duas pelo preço de uma. Para se ter uma idéia do quão pequena era a cidade em questão, ela inteira caberia no famoso prédio do Copam, situado na capital de São Paulo. E naquela minúscula cidadela eu era o único fotógrafo profissional disponível. Na época, uma das minhas atividades mais rentáveis era fotografar grupos de pessoas, mais especificamente, estudantes e o fazia a cada final de ano letivo. Era uma atividade bastante prazerosa porque justamente o que havia de mais belo e fascinante no local eram as pessoas das mais diferentes etnias. Além de marroquinos e indianos que juntos compunham mais da metade da população, já que as famílias, até por uma questão cultural, eram bastante numerosas e recheadas de filhos, netos, primos, e por aí afora, havia gente de várias partes do planeta. Não raro era encontrar famílias com seis, sete e até dez filhos. Com isso, o número de classes nos jardins de infância e no ensino fundamental devia ser próximo de cem. Juntar esses pequenos feudos de pessoas, divididos por faixas etárias e imortalizá-los em uma foto dava um trabalhão, mas era algo que eu esperava ansiosamente e com grande alegria a cada ano. E o que me dava especial satisfação era fotografar os pequeninos das classes do jardim de infância. Crianças de três a seis anos cheias de vida, curiosas e irrequietas eram um show à parte. Como se não bastasse toda aquela riqueza de contrastes, resultante das diferentes etnias, e de toda a alegria que a minha nobre e anual tarefa lhes proporcionava e que expressavam em cada olhar, foi com eles que aprendi uma das lições mais valiosas e que me serviria por toda a minha vida. Para que as fotos saíssem boas, de forma a que todas as crianças ficassem bem visíveis, havia necessidade de um bom planejamento. As cabecinhas de todas tinham que aparecer em quatro níveis diferentes. Só assim era possível criar um retângulo perfeito, preenchendo todo o espaço da foto e maximizar a visibilidade das crianças. Em três níveis, por exemplo, sobrava muito espaço livre nas partes superior e inferior, e os rostos ficavam pequenos demais. Conseguir reunir os pequenos nas três primeiras fileiras era muito simples: os mais altos ficavam de pé, os menorzinhos sentavam nas cadeiras e os outros sentavam no chão. Mas, o que fazer com a quarta fileira? A solução que encontrei, após anos tentando alternativas diferentes, foi a de usar os gaveteiros das escolinhas e sobre as quais as crianças de trás subiriam. O problema é que os tais móveis eram grandes, pesados, altos e tinham umas 40 gavetas. Cada escolinha tinha dois desses: um para meninos e outro para as meninas. Normalmente esses gaveteiros permaneciam nas duas extremidades da escolinha e o desafio era juntá-los para poder tirar a foto e depois colocá-los de volta no lugar de origem. Eles eram tão pesados que um adulto sozinho não conseguia tirá-los do lugar. Depois de quebrar a cabeça e tentar várias formas, descobri uma força poderosa, que estava presente em todas as escolinhas e a qual sempre ignorei: a das crianças. Até então não tinha me ocorrido que quando cerca de quarenta crianças juntam suas forças adquirem um poder incrível e surpreendente. Bastava eu chamar a meninada e dizer: “Hei turma, querem ver o poder do meu dedo mindinho? Venham cá”. Reunia todos ao meu redor para então comandar: “Todo mundo pega um lugarzinho no gaveteiro e empurra. E eu, com o meu dedo mindinho, vou direcionar para o lugar onde tiraremos a foto. Querem ver?”. O resultado era mágica pura. O gaveteiro quase levantava vôo. Era uma cena incrível! De uma tacada só aprendi duas lições que aplico todos os dias em minha rotina de empresário: acredite no poder da união - mesmo dos mais fracos - e nunca esqueça que a motivação, literalmente, move montanhas. Nota do Editor: Jimmy Cygler é Presidente do Conselho da Proxis, Presidente da Resolve! Enterprise Services, professor de Pós-Graduação da ESPM e autor do livro Quem Mexeu na Minha Vida.
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