O PRONERA, Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, estendido às comunidades tradicionais, foi implantado em apenas um lado da região da Caçandoca, por causa do impasse entre as duas Associações Comunitárias existentes. Nem mesmo depois do acordo selado, em São Paulo, de praticar ações conjuntas, visando o bem dos moradores da região, a questão foi resolvida. Em abril deste ano, diante de representantes do INCRA, da Fundação Palmares, da SPU – Secretaria do Patrimônio da União, do Procurador Geral da República, Walter Claudius Rothenberg e da empresária de Comunicação, Nélia Cristina de Carvalho Santos, os responsáveis pelas Associações se comprometeram a dividir tarefas e benefícios, em partes iguais. Dessa forma, tudo estaria perfeito se o acordo fosse realmente respeitado. Mas, infelizmente, não é o que acontece, segundo Neide Antunes de Sá, vice-presidente da Associação dos Remanescentes do Quilombo da Caçandoquinha, Raposa, Saco das Bananas e Frade. O prédio da Escola Municipal é utilizado por apenas uma Associação, que proíbe a entrada dos associados da outra. Hoje a escola funciona para armazenar cordas e redes. Os livros e os computadores, sem uso, ficam mofando e apodrecendo. As consultas pediátricas que eram realizadas no local, agora são feitas até sobre uma mesa de bilhar, cedida por dona Maria da Caçandoca. Agora, o INCRA, através do PRONERA, Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, está estendendo o projeto para as comunidades tradicionais. No quilombo da Caçandoca, o Programa pretende atender jovens que não tenham cursado da primeira a quarta séries. Mas, devido ao impasse entre as entidades comunitárias, os associados da Associação dos Remanescentes do Quilombo da Caçandoquinha, Raposa, Saco das Bananas e Frade nem chegaram a ser informados do projeto do INCRA. “Foi por acaso que fiquei sabendo. Vi a Escola aberta, com um grupo reunido, entrei. Foi aí que tomei conhecimento que estavam dando curso de formação para professores que vão ministrar as aulas para os jovens. Achei isso muito injusto, porque no acordo feito em São Paulo, ficou decidido que tudo seria dividido entre as duas associações. Até na questão dos professores. Se dois fossem necessários, teria de ser um de cada Associação. E não foi isso que ocorreu”, desabafou Neide, que não perdeu tempo e chamou os responsáveis pelo curso na Caçandoca para uma reunião a ser realizada na Escola. Assim, na terça-feira, dia 1º de julho, Mário Gabriel do Prado, presidente da Associação, Jaqueline do Prado, Neide de Sá, dona Maria da Caçandoca, entre outros associados, compareceram para o encontro que acabou sendo transferido para um espaço na Praia, porque a Escola estava fechada. Márcia Aparecida Lima Vieira, Coordenadora do Curso Pedagógico e Francisco Negrini Romero, Coordenador da Extensão da Universidade, ambos da UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba, responsáveis pelo projeto na Caçandoca, demonstraram desconhecimento sobre o atrito entre as associações e se colocaram à disposição para explicar o objetivo do Governo Federal em estender o programa às comunidades tradicionais. Márcia informou que um grupo de estagiárias da Universidade está dando apoio aos professores dos locais e que essa atividade seria de total responsabilidade da UNIMEP. E, para resolver a questão desta comunidade que ficou de fora, Márcia orientou que a Associação enviasse um ofício à Universidade, com um pedido de inclusão no projeto que está em andamento. De acordo com Nélia Santos, que esteve também presente na reunião, o projeto deve ser estendido para outras comunidades, como o quilombo do Cambury, onde “a população é esquecida e muito carente, principalmente desse tipo de atividade”, conclui Nélia.
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