Políticos evangélicos no Brasil estão dispersos em diversos partidos
Agência USP de Notícias - Mesmo sendo um grupo numeroso na política nacional, os evangélicos não formam um partido próprio, nem se alinham num já existente. Desde a Constituinte, em 1988, constata-se uma dispersão de seus representantes em diversos partidos. A questão foi estudada pelo cientista político Tiago Daher Padovezi Borges, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Com foco nos partidos políticos, ele analisou o posicionamento de eleitores e deputados evangélicos em diversos temas, verificando que, mesmo com um vínculo religioso em comum, suas posições sobre outros assuntos são divergentes. Tal diversidade, aliada ao caótico sistema partidário brasileiro, desfavoreceu a formação de um partido evangélico. As condições para a formação do partido evangélico existiram. A liberdade religiosa se acentuou com a redemocratização do País, nas décadas de 1980 e 1990. O conflito entre a Igreja Católica e o Estado, fundamental na constituição dos partidos religiosos, inicia-se de maneira mais clara na década de 1950 e se acentua no Regime Militar. Ao mesmo tempo, há um importante aumento no número de evangélicos. “Ocorre uma transferência de católicos para evangélicos. Os católicos no Brasil caíram de 90% da população, em 1970, para 74% no último censo, em 2000”, explica Borges. Mesmo com as condições históricas favoráveis, um partido evangélico não se formou. A pesquisa mostrou dois motivos principais. Primeiro, a identidade evangélica se restringiu ao vinculo religioso. "Os evangélicos não tinham uma orientação política e econômica muito clara. O tipo de conexão que estabeleceram não foi coeso o suficiente para se montar um partido político", descreve o pesquisador. As lideranças são dispersas também. Borges ressalta que “é importante lembrar que existem várias igrejas evangélicas. Não é como a Católica que está unida numa única igreja (embora ela tenha alguns grupos católicos dispersos). Os evangélicos têm a Universal, Assembléia de Deus, Quadrangular, Batista, entre outras. É um ambiente bem disperso." O segundo motivo é o nosso sistema partidário. No Brasil, não há partidos com identidades sólidas. Na década de 1980, quando houve uma queda no PMDB, o número de partidos, que já era muito grande, explodiu. “O sistema partidário brasileiro é caótico. Num sistema assim, há de pensar se é vantajoso para um partido se focar num ponto específico, em um eleitor por exemplo, ou se dispersar em vários, aumentando sua margem de influência”, questiona Borges. A primeira conclusão esta focada no grupo sem uma identidade mais ampla, e a segunda, no ambiente desordenado que esse grupo atua. Nenhum dos dois motivos favorece a formação de um partido religioso com uma posição mais definida e com uma atuação mais clara. O pesquisador justifica que “muitas vezes é vantajoso o político ser o diferente num grupo de iguais. Como um evangélico no PMDB ele vai ser único. É melhor do que ele ser um evangélico num grupo de vários evangélicos. O sistema eleitoral personalista de votação que existe no Brasil permite isso”. Afinidades casuais Os estudos mostraram que os evangélicos não se alinham com uma visão comum de economia ou política, mas muitas vezes algumas lideranças mobilizam os eleitores por motivos diversos, como visitas a igrejas evangélicas e influência dos pastores. “Mas tudo sem ser uma coisa explícita e direta” explica Borges. Algumas igrejas evangélicas adotam inclusive posições políticas definidas, mas nem sempre os fiéis mudam automaticamente. “Pode haver um atraso. A relação entre pastor e fiel existe, mas ela não é imediata. Os fieis não votam de uma maneira cega com o pastor” conclui. Borges comparou as eleições presidenciais de 2002 e 2006. Segundo ele, o candidato Anthony Garotinho, do PSB do Rio de Janeiro, foi um caso interessante, obtendo um apoio evangélico muito significativo. No segundo turno, sem a presença dele, o voto evangélico se dispersou, acontecendo o mesmo nos dois turnos das eleições de 2006, quando Garotinho não disputou a Presidência. Mesmo com diferenças políticas, os evangélicos formam frentes parlamentares no Congresso por motivos pontuais e que tenham relações com questões religiosas. “Eles se unem para resolver uma questão como o aborto, mas não se juntam para discutir uma política de saúde”, diz Borges, “a identidade se limitou à religião. O vínculo entre eles é estritamente religioso”. Mais informações: tiagodaher@gmail.com, com Tiago Daher Padovezi Borges.
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