Um novo estudo internacional - desta vez da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - traz números preocupantes, e por que não dizer vergonhosos, em relação à educação brasileira. Segundo o levantamento realizado em 33 países, o Brasil ocupa o último lugar em uma tabela sobre investimento por alunos. Com pouco mais de mil euros (R$ 2.439) anuais por aluno, o País posiciona-se atrás de nações como Chile, México, Estônia e Rússia, que investem anualmente entre 1.400 (R$ 3.415) e 2.700 euros (R$ 6.586). A realidade brasileira fica ainda mais distante na comparação com os países mais ricos do mundo. De acordo com a pesquisa, com base em dados de 2005, os Estados Unidos estão na ponta do ranking, com cerca de 9 mil euros anuais (R$ 21.956) por aluno, seguidos da Suíça, Noruega, Áustria, Dinamarca e Suécia. Os investimentos norte-americanos mostram que o país definiu há muito tempo a educação como uma de suas principais prioridades: 99% dos norte-americanos são alfabetizados e 85% possuem diploma da high school, equivalente ao ensino médio. O abismo entre o cenário do topo da lista e a realidade nacional tem como principal causa a forma de encarar a educação desde a pré-escola. Apesar de alguns avanços, estamos a anos-luz de eleger efetivamente a educação como a prioridade das prioridades. Nas high schools de Connecticut e Massachusetts, por exemplo, são oferecidas aulas em tempo integral, com 12 alunos por sala, em ambiente de disciplina permanente e dotados de bibliotecas e laboratórios primorosos. No Brasil, um país continente, mal dá para contar nos dedos as instituições de ensino que chegam perto desse padrão, e nem sequer podemos prever se um dia chegaremos a esse ponto, mesmo levando em conta as críticas e os resultados nem sempre animadores da qualidade do ensino nos Estados Unidos. Prioridade sempre incluída em qualquer programa de governo, na prática a educação é relegada, pela esmagadora maioria das administrações públicas, a segundo plano. Mais grave ainda é constatar que os investimentos na rede pública de ensino público, muitas vezes, são mal geridos. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), abrangendo todas as regiões do Estado de São Paulo, mostra que há grande desperdício de verbas públicas em boa parte delas. A pesquisa apontou a Baixada Santista como a área menos eficiente, entre as 15 regiões do Estado, pois desperdiça 32,6% das verbas que recebe pra investimento em educação. A região de Franca foi identificada como a segunda menos eficiente, pois desperdiça 29,2% das verbas educacionais que recebe e fica em 12º lugar no desempenho dos alunos, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A Região Metropolitana de São Paulo também tem uma taxa grande de desperdício: 26,5% (é a quarta em investimento no Estado e a 11ª no desempenho de alunos). Para montar o ranking, a pesquisa cruzou as notas dos estudantes em provas oficiais com o valor dos recursos investidos na região. Foram considerados os municípios mais eficientes aqueles que atingiram os melhores resultados com menos dinheiro. Esse foi o caso da região de Barretos, com uma taxa de desperdício de recursos de 18,2%. A lição dada por Barretos é que, apesar de recursos nem sempre suficientes, é possível alcançar resultados satisfatórios com criatividade, planejamento e vontade política. Não basta cruzar os braços e esperar que os bons resultados caiam do céu. É importante que se tenham recursos para a educação, mas é fundamental que os gestores da rede ensino apliquem as verbas que recebem com transparência, eficiência e ética. Nota do Editor: Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE, da Academia Paulista de História – APH e diretor da Fiesp.
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