Na esfera internacional (avaliação Pisa), o Brasil ocupa os últimos lugares na aprendizagem do ensino, notadamente Português, Matemática e Ciências. E, nas avaliações, tanto do MEC, quanto da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, os resultados têm sido desanimadores, eis que grande número de alunos da 4° série e da 8° série do ensino fundamental, bem como do ensino médio, encontram-se na precária condição de analfabetos funcionais: estão na escola, mas não progridem na absorção do conhecimento. Muitas são as razões desse descalabro, entre elas a famosa progressão automática, que acabou por degenerar em promoção automática, em que o professor não ensina, o aluno não aprende e tudo fica bem, porque ninguém é reprovado. Lembram-se de uma mãe desesperada que foi à justiça pedir ao juiz que decretasse a reprovação da filha, eis que sem nada ter aprendido, estava sendo matriculada pela escola na série seguinte? Daí que, para mim, com meu meio século de estudos, observações e participações na vida educacional do Brasil (professor, administrador, secretário de educação, conselheiro estadual e federal de educação, reitor de universidades e tantas cousas mais) o busílis da questão está na formação deficiente e equivocada dos professores. As Faculdades de Educação estão de um modo geral, falhando na sua missão de formar, atualizar e qualificar docentes. Quando ministrava aulas de Mestrado numa das grandes e tradicionais universidades de São Paulo, costumava submeter os alunos, todos licenciados em Pedagogia, a testes do tipo: quem pode me dizer o que é educação? Como levar os alunos a identificarem a presença do teorema de Pitágoras no seu dia-a-dia? Quem sabe utilizar-se da internet em sala de aula? E cousas pela rama. Se me fosse possível, um dia, publicar as respostas que me davam, haveria material de sobra para editar uma enciclopédia intitulada: O Besteirol Pedagógico do Brasil. Os professores, notadamente no ensino básico, e excluídas as raras exceções, mesmo os licenciados e até pós-graduados, não sabem exatamente o que fazer em sala de aula. Desconhecem as Diretrizes Curriculares em vigor, não aprenderam a lidar com a tecnologia avançada da educação (EAD e TI), não conseguem relacionar a teoria dos conceitos que ensinam com sua aplicabilidade na prática. Talvez saiam, do curso superior cada vez mais sábios em teorias pedagógicas – sobretudo as que estão a serviço de ideologias da extravagância -, mas incapazes de alfabetizar uma criança. Todas estas considerações vêm a propósito da recente pesquisa levada a cabo pela Fundação Carlos Chagas, encomendada pela Fundação Vitor Civita, sobre a presença dos estudos da metodologia do ensino na formação dos professores. Aprender didática é aprender a transmitir o conhecimento e preparar o aluno para a autodidaxia na busca individual do saber, via bibliotecas e computadores. Deveria ser a maior carga horária dos cursos de formação docente. No entanto, a pesquisa constatou que apenas 20,7% do tempo se reserva a prática de ensino. E nos outros 79,3% de duração do curso, o que se faz? Eis aí uma boa pergunta. Talvez que a resposta pudesse ser: aprende-se um punhado de saberes de duvidosa utilidade. Ora, se a pedagogia é, ao mesmo tempo, arte e ciência, haveria que dedicar-se, pelo menos, 50% à didática, que faz parte da arte, e o restante à erudição, até certo ponto dispensável das teorias pedagógicas de ontem e de hoje, que fazem parte da ciência. Caso isso tudo pudesse ser mudado, a partir das conclusões dessa oportuna pesquisa, creio que muitas das deficiências que, hoje, frustram o processo ensino-aprendizagem e desesperam os professores, no que diz respeito aos resultados alcançados, seriam superadas e as futuras gerações de cidadãos brasileiros estariam melhor equipados para ganhar a própria vida e ajudar no desenvolvimento do país. Nisso a velha escola normal era imbatível. Nota do Editor: Paulo Nathanael Pereira de Souza é doutor em educação e presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE.
|