O aumento da escolaridade dos brasileiros nos últimos 20 anos não foi suficiente para abrandar as desigualdades salariais, que continua sendo uma das maiores do mundo. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a diferença chega a 1.714 vezes. Nesse estudo, o salário mais alto da iniciativa privada foi de R$ 120 mil, de um dirigente da região Sudeste, e o mais baixo, da mesma região, de R$ 70 mensais, valor inferior ao mínimo recebido por um trabalhador do setor de serviços. O sistema tributário brasileiro, confuso, complexo e cada vez mais inchado, pode ser apontado como um dos vilões da lentidão para eliminar o abismo entre os salários, pois penaliza fortemente as classes mais baixas. Em 2004, por exemplo, quem ganhava até dois salários mínimos por mês gastava 46% da remuneração em impostos diretos e indiretos, ou seja, um percentual quase três vezes maior do que os 16% pagos pela faixa de renda acima de 30 salários mínimos. A população já demonstrou sua preocupação com a necessidade de uma reforma tributária consistente. Em pesquisa do CNI/Ibope, 82% dos entrevistados mostram-se a favor da reforma; 35% consideram ainda que a reforma tributária pode alavancar o crescimento do país, tornando-se ainda mais importante em época de crise global, como a atual. Agora, só falta os políticos se sensibilizarem com a pressão da opinião pública e agirem rápido nessa questão, há muito travada no Legislativo, em Brasília. É notório que o Brasil viveu avanços nos últimos anos, medidos pela ascensão à classe média de significativo número de famílias. A meta, a partir de agora, é reduzir ainda mais a distância entre as faixas salariais, tendo como parâmetro a escala de remuneração praticada nos países desenvolvidos. Para isso, é necessário, além da reforma tributária, uma mudança consistente na política educacional, intensificando o foco na qualidade de ensino. Sem isso, será impossível melhorar a qualificação do conjunto de profissionais, quesito em que o País amarga uma das piores posições no ranking mundial. Uma desvantagem nada surpreendente diante de inclusão de quase dois terços da população na categoria de analfabetos funcionais, formada por aqueles que passaram pela escola, mas revelam baixíssima aptidão para compreender o que lêem ou realizar operações aritméticas básicas. Os “tigres asiáticos” são sempre citados quando se fala no impacto da qualidade do ensino nos indicadores socioeconômicos dos países. A Coréia do Sul, por exemplo, deu saltos espetaculares de desenvolvimento investindo alto em educação, básica e superior. Hoje são produtores de alta tecnologia, com profissionais extremamente capacitados. No Brasil, os empresários reclamam da falta de capacitação da mão-de-obra, a ponto de vagas permanecerem em aberto por longos meses, pois são de difícil preenchimento devido à ausência de candidatos qualificados. O governo, portanto, deve enfrentar o quanto antes esta situação, se quiser que o Brasil brigue em condições adequadas por um lugar de destaque no cenário mundial. Deve investir na formação do professor, na modernização da gestão escolar, na compatibilização da oferta e do conteúdo dos cursos com as necessidades da economia e na ampliação da rede de ensino técnico, além de estimular todas as modalidades de complementação prática do aprendizado escolar, com foco especial no estágio. Esse desafio, vale lembrar, não envolve apenas do governo, mas exige uma nova postura da sociedade. Os estudantes precisam se conscientizar da importância de aprender sempre bem e cada vez mais. À escola do ensino básico pede-se empenho para sair do atoleiro de indicadores trágicos de qualidade e às universidades, que se contribuam mais efetivamente para ingresso no ciclo de desenvolvimento sustentável. Das empresas espera-se uma participação mais intensa na formação de futuros profissionais, abrindo espaço para que os estudantes unam a teoria e a prática. Com isso, todos ganharão. Nota do Editor: Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e diretor da FIESP.
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