Não sei fingir que amo pouco quando em mim ama tudo. - Vergílio Ferreira
Recebo sua imagem envolta em azul. Mergulho onde se escondem asas, virações, horizontes que me aguardam. O azul profundo da noite a tudo oculta sob sua pele bárbara: percebo o quanto ilumina, oscilando entre o que pulsa e emociona, entre o que nomeio divino e estilhaço, entre o que mostra e revela: a rosa em formação. Original: o estranho jogo de sílabas embaralhadas para que tudo tenha sentido e precisão diante dos destroços. As palavras como testemunha. Sua foto está lá, imutável, sem fissuras, corrosões, devastações, pressas, ervas daninhas, enquadrada para a eternidade, disciplinada pela beleza. Sol encarcerado. Rios de luz na imobilidade, semblante desfocado de anjo. Na contraluz não se vê a aparição subterrânea do que há em mim: códigos intraduzíveis da fúria e o útero dos relâmpagos. A vida tem urgências... as noites queimam incontroláveis de amor. O que temo? O desconhecido? A profundidade dos abismos e seus alicerces corroídos? Onde a arquitetura da paz? A administração do caos? É preciso que tudo doa menos. Tenho necessidades medievais diante do peso total de um céu desesperado. Minhas pequeninas coisas do coração: sonhos pisados, o amor que esperei e nunca veio... Será que alguém ainda consegue me fazer algum mal depois de tudo que vivi? A circularidade do que é humano: o mecanismo da vida que leva a todos para tão longe e depois os traz para tão perto em sua sincronicidade perfeita. Por isso seu olhar é azul e meu silêncio, blues. Nota do Editor: Solange Sólon Borges é jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura. Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV (2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta - emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.
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