2009 será difícil, mas não ruim para bares e restaurantes. Em entrevista à ASN, presidente da Abrasel, Paulo Solmucci Jr., fala sobre os desafios do setor diante da crise econômica mundial
Este ano deverá ser difícil, mas não ruim para o setor de bares e restaurantes. O primeiro trimestre será importante para observar e compreender qual é o real impacto da crise econômica no mercado nacional. As oscilações do dólar aumentaram os custos do setor, principalmente em relação aos preços do vinho, azeite, carne, cevada, entre outros. No segundo semestre, a economia deverá estar mais equilibrada. Se a legislação brasileira permitisse a contratação de trabalhadores temporários nos moldes de outros países, os jovens seriam os grandes beneficiários, pois poderiam conciliar melhor escola e trabalho. Esse pleito dos donos de bares e restaurantes é antigo. Talvez os efeitos da crise no mercado de trabalho levem o governo a modernizar a legislação trabalhista, regulamentando esse tipo de contratação. Donos de bares e restaurantes também aguardam o apoio às micro e pequenas empresas anunciado pelo presidente Lula. Eles esperam que o crédito seja melhor distribuído entre pequenas e grandes empresas, em 2009. No ano passado, os negócios cresceram 5% no País, três pontos a menos do que a meta projetada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). A instituição da chamada Lei Seca no País, que proíbe e pune motoristas alcoolizados ao volante, reduziu os negócios do setor. Demissões foram feitas por conta da implantação da nova legislação e o setor entrou em 2009 mais enxuto. Para este ano, não há previsão de demissões, mas de contratações. Cerca de um milhão de empresas integram o setor de bares e restaurantes no Brasil e 52% dos trabalhadores dessas empresas têm até 30 anos de idade. Para milhares de jovens e pessoas pouco qualificadas, o primeiro emprego se encontra nesse setor. As afirmações e observações acima são um resumo da entrevista concedida pelo presidente da Abrasel, Paulo Solmucci Jr, à Agência Sebrae de Notícias. Como outros presidentes de entidades empresariais parceiras do Sebrae que estão sendo entrevistados, Solmucci falou sobre os reflexos da crise econômica nos bares e restaurantes, até o momento. ASN - Os efeitos da crise econômica chegaram aos bares e restaurantes? Solmucci - Já. Na verdade são efeitos negativos e positivos. Empresas como churrascarias tiveram impacto mais negativo, com queda entre 30% a 40% no faturamento. A clientela delas é formada principalmente por pessoas jurídicas. Os compromissos empresariais foram reduzidos no final do ano, por causa da crise. Bufês e festas corporativas foram reduzidas entre 30% a 40%. Outros nichos, no entanto, tiveram crescimento. Talvez a renda que deixou de ser aplicada em imóveis e carros tenha sido alocada no nosso setor. No segmento de alimentação fora do lar, a taxa de crescimento estava em 8%, em junho passado. Terminamos 2008 com incertezas especialmente em relação ao mercado corporativo e com pressões nos custos. A Lei Seca reduziu, também, os negócios. Crescemos 5% no ano passado. Havíamos projetado que seria em torno de 8%. Foi um ano tumultuado. ASN - Há alguma projeção para 2009? Solmucci? - Desde setembro passado, estamos enfrentando os impactos do aumento do dólar e as pressões dos fornecedores de vinhos, azeite, carne, cevada etc. Foram grandes as oscilações, ao longo de 2008. No primeiro trimestre deste ano, estamos recomendando que as empresas ponham os olhos nos custos e usem a criatividade para atrair a clientela. Temos de ser bastante cautelosos em 2009 e economizar sem perder a qualidade. Tentar evitar o repasse de custos, pois desde que a renda começou a cair, percebemos a redução do gasto per capita em nosso setor. 2009 deve ser um ano difícil, mas não ruim. O ambiente macroeconômico nos favorece. Certamente a rentabilidade deve diminuir, pois estamos com aumento de custos, insumos, capital e aperto na demanda. É inevitável, mas não estamos falando em quebradeira, nem demissão em massa. As grandes indústrias é que estão demitindo e decretando férias coletivas. O fato de o brasileiro ter deixado de gastar com bens de maior valor, significa mais renda para nosso setor. Somos um milhão de empresas. ASN - O que esperar do primeiro semestre deste ano? Solmucci - O dólar é uma incerteza grande no primeiro semestre. Saber qual será o nível de repasse para nossos custos é o grande desafio. Agora estamos entrando na fase de entender melhor o que a crise vai influenciar de fato. Os primeiros três meses de 2009 serão o período em que teremos de observar mais. Serão cruciais para análise profunda do nosso dia-a-dia. A fumaça está se dissipando. Agora é que a gente começa a enxergar melhor. Por isso, o primeiro trimestre será de muita cautela e análise. Vai exigir reposicionamento de todos os setores, mas não é mais a mesma situação de quatro meses atrás. ASN - Você considera que o brasileiro está otimista demais em relação aos efeitos da crise? Solmucci - Acho interessante se manter otimista. O presidente Lula demonstrou competência ao sair na frente defendendo o otimismo. Acredito no otimista, mas não no otimismo irresponsável. As empresas não estão se deixando paralisar. A grande esperança nossa é o mercado interno. Não estou percebendo que há otimismo cego, mas um otimismo baseado em fatos. Ninguém está desconsiderando a gravidade da crise e sua dimensão. Ainda temos dificuldade de avaliar. Temos de ser responsáveis e diminuir custos, sem desistir da qualidade. Um otimismo cauteloso em 2009, é o que deve ser. ASN - E a situação dos empregos no setor? Solmucci - Não há sinal de demissões no nosso setor. A Lei Seca jogou fora os excessos de mão-de-obra. O setor entrou enxuto em 2009. Tínhamos falta de mão-de-obra, agora vai haver equilíbrio entre oferta e demanda. Os custos da mão-de-obra estavam disparando. A força de trabalho não deverá diminuir, mas estabilizar-se com o custo mais adequado. Vamos contratar menos, porém com mais facilidade. O mercado está mais equilibrado. ASN - Como está o acesso ao crédito para o setor? Solmucci - Estamos aguardando o presidente Lula, que anunciou que vai ajudar as micro e pequenas empresas. Os pequenos negócios sempre dependem muito do crédito para o capital de giro. A taxa real de juros cresceu, no mínimo, 50% e chega a até 100%. O empresário de pequeno porte é sempre visto como risco maior e sofre muito com o aumento do custo do capital. Estou com esperança de que o presidente Lula consiga nos trazer, pelo menos, à normalidade, melhor distribuindo crédito entre as pequenas e grandes empresas. ASN - Como o governo poderia ajudar os bares e restaurantes, este ano? Solmucci - Promovendo a modernização da legislação trabalhista e permitindo a contratação de trabalhador temporário. Geraria mais 2 milhões de empregos no País. Por exemplo: um serviço de bufê ou uma padaria poderia contratar mão-de-obra para uma festa de mil pessoas. Em 2007, dados apontam que cerca de 1,2 milhão de jovens deixaram de estudar porque conseguiram emprego no nosso setor. No Brasil só se consegue emprego com horário integral. Isso compromete a escolaridade e o futuro do jovem. Em nossas empresas sobra mão-de-obra no início da semana e falta no final. Nossa legislação não permite trabalho temporário. Temos de conseguir contratar trabalhadores por um ou dois dias. Há necessidade de melhorar nossa legislação e aproximar ao que existe em outros países. Nos Estados Unidos, quatro entre dez pessoas trabalham em bares e restaurantes como temporários. Esse é um pleito antigo nosso. Talvez essa crise seja a oportunidade para o governo corrigir essa distorção em nossa legislação trabalhista. Precisamos viabilizar que o jovem possa trabalhar e estudar no Brasil. Pesquisa de 2006 da Abrasel mostra que 52% da nossa mão-de-obra têm até 30 anos de idade. Somos uma porta de entrada interessante para o mercado de trabalho para jovens e pessoas pouco qualificadas.
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