Crise, demissões em massa, perspectivas de recolocação difíceis e de longo prazo, necessidade de recorrer a trabalhos alternativos fora de sua área de formação. Esta parece ser a realidade de muitos profissionais, que começam a se perguntar se não é a profissão que escolheram que está em crise permanente. Sua profissão está em crise? Como perceber os sintomas e começar a planejar o “Plano B”? Segundo a Vice-Presidente de Relações com Universidades da ABRH - Nacional, Maria Inês Felippe, que também é consultora no campo da inovação empresarial, os profissionais de hoje precisam tratar suas profissões com atenção redobrada, pois as mudanças podem levar a becos sem saída: “As pessoas precisam se questionar se há compatibilidade entre o que ela é, o que pensa e acredita com aquilo que faz no dia-a-dia. Responder estas perguntas é importante, pois uma resposta negativa aqui pode indicar perigosos processos de acomodação”, alerta Felippe. Ela alerta que algumas pessoas ficam amarradas a trabalhos que não os realizam apenas por questões financeiras, o que vai exigir um planejamento financeiro para mudar, antes que uma situação de desemprego venha a comprometer a possibilidade de decisões racionais. Segundo George Brough, Diretor da Caliper, uma empresa de consultoria voltada para o desenvolvimento de pessoas, as pessoas precisam compreender que não são engenheiros, médicos, advogados, jornalistas, publicitários ou dentistas, mas as pessoas “estão nessas profissões”: “Ser engenheiro há 50 anos é totalmente diferente de um engenheiro dos dias de hoje. O mesmo com um jornalista: internet, blogs, comunicação instantânea, nada disso existia quando os grandes jornais impressos pareciam ser eternos. Você pode aprender várias técnicas na sua vida, mas há coisas que tornam você especial como trabalhar em equipe, ser capaz de vender suas idéias de modo persuasivo, ter coragem de tomar decisões e corrigir eventuais equívocos, respeitar os prazos, entre algumas outras que dizem muito mais respeito a características pessoais do que algo que se aprende em uma profissão”, assinala Brough, acrescentando que se a sua profissão está em crise, mais importante do que pensar em mudar de profissão é começar a se reinventar como pessoa. Sean Hutchinson, Gerente Geral em São Paulo da RH Internacional, uma empresa da Randstad Company, com sede na Holanda, assinala que a percepção de “crise de profissão” é algo que exige uma análise pessoal e intransferível: “Se você não está motivado, não tem ânimo e empenho para buscar os resultados de que precisa, ou seja, tem pouco apreço por trabalhar naquilo que escolheu, então este é um claro indício de que você vive uma crise profissional e deve repensar suas escolhas”, explica. Hutchinson alerta para um acontecimento frequente nos dias de hoje, a substituição de trabalho humano por máquinas, algo que provoca grande desemprego e exige um processo de requalificação por parte das pessoas: “Desemprego em função de automação de processos é algo mais comum do que se imagina. Se você começa a perceber que suas atividades dentro de sua função começam a diminuir em função da chegada de novos softwares ou equipamentos, este é o primeiro aviso de que sua profissão pode estar a caminho da extinção, o que vai exigir de você criatividade para inovar ou até repensar sua carreira”, adverte. Para Sofia Esteves, Presidente do Grupo DMRH, especializado em recrutamento e seleção, o dilema vivido por algumas pessoas, sobre se vale mais a pena fazer algo de que se gosta ou ter uma profissão que dê dinheiro, é um falso dilema: “É possível gostar do que se faz e ganhar dinheiro ao mesmo tempo. De maneira nenhuma são coisas opostas. Mas com certeza, trabalhar em algo de que não se gosta somente porque dá dinheiro pode ser frustrante, já que o esforço para se adaptar à função pode ser muito desgastante. As pessoas precisam compreender que o trabalho não é só fonte de renda, mas também de realização”, assinala. Segundo Felippe, um dado alarmante é que somente 30% dos estudantes universitários escolhem aquelas carreiras que os realizam como pessoas, sendo que os demais 70% buscam apenas algo que dê um bom salário. O resultado disso é um enorme contingente de profissionais insatisfeitos e desmotivados, o que os torna presas fáceis da substituição ou de processos de demissão.
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